sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Carnaval Antecipado

Simplesmente não sei o que fazer com tudo 'isto'... São doze (12!!!) páginas... Escritas em novembro de 2010; enquanto eu não tiver uma ideia melhor, as guardarei aqui... Se alguém se aventurar... Estarei aqui para ideias e sentimentos...



Carnaval antecipado
São tantas bolinhas coloridas espalhadas, que poderia se dizer que já é carnaval no meu chão... Pensei até em levar a festa para dentro de mim...Tantos confetes coloridos levariam com certeza até um elefante a lua... E não precisaria de foguetes ou fogos de artifícios, aliás, pra que mais artifícios... A vida e os “amigos” que nos cercam já nos oferecem tantos, não é mesmo? Bem... No final... Não seria com certeza uma festa assim tão divertida, seria mais uma festa trash mesmo, os “amigos” com certeza viriam todos à caráter... Fantasiados, e tais como urubus estariam todos de preto, e quem sabe até iluminariam o ambiente a luz de velas... Propiciando assim um tom mais intimista... Talvez, ficasse bonito afinal... E, com certeza bem acolhedor aos abutres que chegassem... E, creiam... Chegariam!
 Mas, eu lá sou mulher de oferecer festa para supostos ou falsos amigos? Ainda mais festas das quais, embora de corpo presente, eu mesma não me divirta? Ora, faça-me o favor... Festas... Faço questão de primeiramente e pessoalmente convidar amigos, falsos amigos e alguns inimigos também para assim me divertir mais... Sempre me divirto mais com inimigos na mesa... Afinal, são eles que mais me fazem rir... Hoje, hoje não, ontem! Ontem, pensei por algumas frações de segundo em me servir aos abutres... Mas... Não é mesmo de minha natureza... Ser prato principal ou sobremesa...
Depois de tal rápido pensar... Escolhi apenas um confete...Um! Apenas um! Aquele que melhor me caía... Até combinava com meu tom... E pluft! Capotei!
Me Contaram depois que até línguas estranhas falei... Talvez, a dos anjos... Não sei... Ufa! Ninguém desse planeta entendeu!!! Dá um medo, né? Falar dormindo... Passou... Acordei.
Acordei, amassada... Meio torturada... Atordoada... Entonturada... Mas, acordada! E, mais acordada do que nunca! O que me fez pensar naquele carnaval? O que me fez pensar em decorar a alma com tamanha quantidade de confetes? Passou! Afinal, afinal, ainda é novembro! Não sou tão louca assim, carnaval, meu filho, só em março ou fevereiro mesmo... Mas... Mas, antes dele, temos ainda o Natal...
Ah, o Natal... E, sem adentramos a seus significados mais profundos, lembremos os pequenos flocos de neves europeus, e os mais variados tamanhos de suas imitações nas árvores dos países tropicais, e o que dizer das belas e coloridas esferas que também elas enfeitam?E os confeites? Confetes de natal... Tantas guloseimas... Ah... Enfeitam a festa também, não é mesmo? Ah! Não quero pensar muito no natal... Ele também me lembra o carnaval...
Mas, esse ano, esse ano, quero um par de brincos de bolas de natal!
Engraçado como esferas... Bolinhas... Círculos lembram a vida... Será coincidência? Começamos esse bate-papo com confetes e bolinhas, fomos para flocos de neves e bolas e confeites de natal que acabaram lembrando-nos do carnaval... E, parecemos girar em círculos... Acabo assim ficando tonta! Mas, espere... Girar em círculos... Redundante não? Deixa pra lá! Digamos que seja apenas enfático! Tudo isso parece girar... Girar... Girar... Uhhhhhhhhh Giraaaaaaaaaaaando... Girando, como minha cabeça ultimamente... Em círculos! E tudo isso cheira a vida!
Barriga de grávida, vida!
Célula, vida!
Átomo, vida!
Coração, vida!
Cérebro, vida!
Roda... Roda? Fortuna!
Já se acreditou que a vida era bem representada pela roda da fortuna... Que não necessariamente era sorte ou fortuna... Mas, vida, com certeza!
Óvulo, vida? Depende... Fecundado? Vida! Não fecundado?Vazio ou Seco! Não-vida!
Quando meu quarto era um carnaval só... Quando meu chão se abria em confetes, eu era praticamente um óvulo não-fecundado... Vazia... Seca! No entanto, adulta, mulher feita... Refeita... Praticamente uma colcha de retalhos...
(Boa! Boa metáfora, afinal colcha de retalhos não tem alma... E se está no quarto, está mesmo seca...)
Não importa... Adulta, mulher feita e por várias vezes refeita! Robótica, Frankenstein... Mas, tão seca que qualquer vento que batia arrastava pra lá e pra lá, sem rumo, sem prumo... Não havia vontade que pudesse dirigir, não havia vela nem remo... Não havia motor... E tantas bolinhas coloridas... E bolinhas sempre lembram vida... Não é? É?
Há vida após a morte?
Que pergunta paradoxal!!! Palavras tão antagônicas numa mesma frase... Mas, profundas demais para um texto de tintas tão coloridas...
- Que fique claro, nesse momento de profunda e solene reflexão, que bolinhas nem sempre significam vida! Ponto! Sem interrogações, por favor.
Recortemos, no entanto, as folhas secas e o vento, nesse momento, do texto... Que o resto é só contexto...
Parem tudo o que estão fazendo agora... Parem! Parem de ler esse texto inclusive. Parem, e vão até o portão, até a janela... Se estiverem num trem ou ônibus, simplesmente olhem em volta e/ou pela janela... Se estiverem no próprio veículo, estacionem em algum lugar e observem. Não é possível que pessoas passem às vezes uma vida toda sem observar o outro... Às vezes é o outro a seu lado... Que dorme a seu lado! Não importa! Agora, quero que observem os outros, outro a outro, estranhos mesmo... O exercício é legal... Se preferirem, observem-se... Às vezes somos nós o estranho de nós mesmos! Há pessoas que nunca se observaram de verdade...
Sabem o que é reflexão? É foda de explicar... Mas, é mais ou menos o ato de se desdobrar... De se pensar... De repensar o próprio pensamento... Não importa de novo! O que importa é viajar... E o papo agora é observar... Observar o outro... Seja o outro lá fora... Ou o outro dentro de você. Pare tudo e observe... Eu espero... Vão lá!
***
Confesso que fui também... Mas, não dei sorte... É domingo, está chovendo... E não vi ninguém... De qualquer forma estou habituada a fazer isso todos os dias e todos os instantes da minha vida... Não sei se ao fazer as contas observo mais os outros eus ou observo mais os outros lá fora... Penso que mais observo meus outros eus, por isso sou tão... Como direi... Tão estranha... Aliás, podem me chamar de “bichinho exótico”... Eu gosto!
O que eu gostaria que vocês notassem? Primeiro, que com vento ou sem vento, há pessoas, que apenas pelas expressões marcadas nos rostos, apenas pela postura no andar... Às vezes pela melancolia no olhar... A gente nota que estão apenas sendo arrastadas pela vida... Estão secas! Outras pelo contrário, mas pela observação das mesmas características: postura, olhar e expressões, que nessas são contrárias, o que nas outras eram densas e pesadas, nestas são alegres e leves também são arrastadas... Umas pelas tristezas e por elas secaram... Outras pelas alegrias e por elas cegaram... E, no entanto, cada uma a seu jeito não percebeu que de repente um vento bateu e as levaram para algum lugar que não escolheram... E algum filósofo de plantão dirá: é... Isso é paixão... O resto é ação! Bonito isso! Difícil seria dizer ou explicar como agir num vendaval mundano desses... O fato é: folha seca ou folha verde nada escapa ao vendaval da vida... Folhas, gravetos e até fortes tocos estão frequentemente sendo arrastados... E quando nos vemos, estamos sós ou rodeados por pseudo-amigos, pseudo-amantes, pseudo-sabe-se-lá-o-quê! E daí? Como chegamos aqui?
Será que você já esteve naquele quarto cheio de confetes? Ou pelo menos em algum lugar parecido? Vou te dizer como é que se chega lá... Primeiro você, claro que sem notar, tem de ter enfrentado muito vento pela proa, vindos do norte, noroeste e o ‘escambal’... Deve ter rido muito e confiado muito... Deve ter se sentido a pessoa mais feliz do mundo... Deve ter se dado à vida como ninguém... Deve ter amado a vida... Deve ter se encantado com as flores e a beleza dos pássaros... Deve já ter segurado um recém-nascido nos braços ou quem sabe um pequenino pássaro e se emocionado com sua fragilidade... Deve claro ter se decepcionado com os que amou, e esses sem dó claro te apunhalaram bem onde você havia mostrado que doía mais...(Metaforicamente ou não!) Deve ter amado tanto que por isso mesmo chorou rios e mares... Lembram o poetinha? “Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mais sabe menos do que eu... Por que a vida só se da pra quem se deu... Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu...” Deve ter tido um dia a sensação de possuir entre as mãos o que de mais puro pode haver neste mundo de lama e maldades e de repente vê-lo se perder ou se corromper como qualquer verme nojento... Asqueroso! Teve náuseas... É neste momento que se fica catatônica... Seca...
Pronto! Retornamos ao quarto! Seca! Secas? Secos? Verdes? Tocos? Gravetos?
Não importa...
Tudo o vento transporta...
E quando nos vemos, o chão se abre e tudo pode ser um grande carnaval...
Novembro, Janeiro... Março... Outubro, quem sabe, quando as folhas são ainda mais secas...
Mas... Mas, mesmo nos carnavais atuais há confetes e serpentinas... E ainda nos natais há neve e bolas coloridas... Confeites e guloseimas... Presente!
Serpentinas, confetes e bolas... Tudo bem colorido, por favor! Festa! Alegria! Vida! E de repente no meio da festa... Há os que não resistem o glamour dos grandes carnavais... E diante do colorido... Diante do Frenesi... No espelho, confusos, entre a pureza e o verme que dela vê purgar... Na Esperança do grande êxtase, dão à alma seu carnaval... Aos que passam, a cena é sempre outra, o foco é outro; eu diria que: houve-se a marcha parar, pode-se ver uma nuvem negra tudo cobrir, e sentir como que uma chuva de falsas lágrimas parecer chorar o morto que parecia dançar o carnaval de confetes e serpentinas... Pierrôs e Colombinas destoam com suas máscaras diante de todas as outras que passam despercebidas... Todos em volta, com flores e comoções, parecem tão comovidos ao recolher os confetes do chão... Ao cruzarem as mãos... Ao limparem o vermelho que o baile causou... E, no entanto, não tiram suas máscaras jamais... Aliás, nem mais a sentem... Mas, são de gente... Isso são! Mas, não quero falar de hipócritas! De hipocrisias... Me desculpem se utilizei muitas metáforas... Mas penso que fui bem clara... Um vento bate e de repente moço você se vê num lugar qualquer... Onde não planejou estar... De repente está grisalho e não dá mais tempo voltar... Não adianta chorar... Vai doer... Vai rasgar... A consciência um dia chega e desfaz as malas, e você onde estará e com quem? Quem deixou pra trás... Valeu quem magoou quem fez chorar? O que comprou, o que poupou valeu o que não viveu? Valeu o que matou o que morreu? Ainda lembra quem é você?
Mas, já enterramos nosso falecido, que não resistiu a esse mundo-cão... Enterremos também esse papo-cão...
***
Sejamos ingênuos agora...
Quero falar de algo tão lindo... Tão lindo, que não conseguia... Com tanta coisa dolorida em volta... Tanta coisa feia...  Eu precisava falar delas primeiro... Elas são minha introdução... E, já me desculpo, por isso...Talvez, vocês não precisassem desse “puxão de orelhas”, mas eu precisava me purificar... Precisava me purgar... Precisava vomitar essas bolinhas que nem sempre são más... Na verdade, penso que o mal é um momento... Um momento em que há uma configuração louca em que parece que tudo está contra você e você de fato se convence disso... Mas... Deixemos isso pra lá... Quero agora falar de uma bolinha linda...Uma específica... Linda mesma! Vão gostar... Escutem!
Algo que é vida pura, de tão puro que é transparente... E, como todo transparente, tudo reflete e faz refletir...
Calma... Estou tentando alcançar...
Ontem, (Lembram?) quando meu chão se abria em confetes, eu quase perdi o hoje... E o hoje como se chama?
Presente!
E o hoje me traria de presente... Me trouxe uma bolinha tão linda... Tão inesperada... Aliás... Uma daquelas bolinhas que a gente espera a vida toda, mas de fato não acredita que exista... Apenas tem esperança que haja...
Não há dinheiro no mundo que a compre... Eu garanto!
Se há algum materialista, que ainda esteja lendo este texto...(Ou me ouvindo...) Pare agora! Não há nada aqui que o interesse... Que lhe possa ter algum valor!
Queime-o agora, amasse-o. Jogue-o fora! (Não consigo conceber um materialista lendo este texto e chegar até aqui...) Em que mundo nós estamos?
Falamos aqui de algo que faz os olhos brilharem mais do que diamantes ou quaisquer outras pedras preciosas... Eu falo da lágrima... Lágrimas... E tanto a produzimos, não é mesmo! Mas, há lágrimas de todos os tipos e para todas as ocasiões e emoções: desespero, dor, espanto, horror, tristeza, mágoa, felicidade, alegria, comoção... Não vamos questionar os caminhos científicos das lágrimas... Quero saber do que são feitas... De que são preenchidas... Mas, não quero saber sua fórmula química... Quero seu conteúdo emocional...
Notem, há lágrimas que simplesmente escorrem timidamente, silenciosas... Outras parecem explodir... Parecem que vão pular, saltarem feito pipocas rosto a fora... Outras só vêem em bandos... E, por isso, parecem verdadeiros rios... Parecem que não vão parar nunca... As silenciosas... Essas são solitárias... Vêem calmas... Uma após a outra... São ordeiras... Parecem formar uma fila... Às vezes, é uma só que rola, apenas uma! Mas, fica estampado no rosto, que há uma verdadeira multidão guardada no peito... A pessoa parece até que vai enfartar... Parece que engoliu um pato com farofa e tudo... Mas, engole em seco, e secos ficam os olhos... Enfim... Há mesmo uma infinidade de tipos e manifestações de lágrimas... Mas, por quê? Cada emoção, cada paixão, produz um tipo de lágrima ou manifestação de lágrima? Ou depende do caráter da pessoa? Hum... Penso que adentramos a campos específicos... Mas, que é de se pensar é... Mas, pensemos outro dia... Quem sabe pesquisemos até... Mas, o que me fascinou... O que me fascina nas lágrimas é mesmo sua personalidade... É isso, vou chamar de sua personalidade... Já que cada uma tem a sua... Digo então que, cada lágrima tem uma personalidade, acho bem justo! E isso me fascina...
Você (é, você mesmo, que me lê, que me escuta) e eu somos pessoas diferentes, com histórias de vida diferentes, logo, com personalidades diferentes, não é mesmo? Concorda? É nisso que eu queria chegar... Qual é a história de cada lágrima que derramamos... Você acredita que ela nasce naquele exato instante em que brota de seus olhos? Esqueçamos as lágrimas sem emoções e sem paixões... Então, lá estou a cortar cebolas, e imediatamente meus olhos começam a lacrimejar... Se eu não me aproveito desse momento para descarregar emoções há muito guardadas (acredito que há essa possibilidade), penso que essas lágrimas provocadas pela cebola sequer nasceram, são lágrimas vazias... São lágrimas abortadas... E todas as lágrimas provocadas por aparelhos médicos, por exemplo, poeiras e coisas do tipo, são como ovos não-galados, são como menstruação ou aborto... Enfim, lágrimas ocas... Vazias...(Embora, reconheça que abortos não sejam vazios...) Eu poderia dizer, num atrevimento poético: não-lágrimas... E, delas já falei demais... Quero falar das cheias de vida e histórias... Das com personalidades!
O que perguntei e repito foi: você acredita que a lágrima nasceu naquele exato momento em que brotou dos seus olhos? Esqueça a tia recalcada da ciência... Não a quero rondando meu texto! Xô!
Claro que há sempre algo que detona nossas lágrimas... Às vezes, um grito, uma palavra (mal)dita... Uma ofensa... Que dói lá no fundo do peito... Já choraram essa lágrima que saí lá do fundo do peito que dói mesmo... Fisicamente dói... Mas, dói mais que físico... Que parece mesmo haver uma alma que dói junto... E, aí não conseguirmos mesmo, seja lá onde estivermos, na frente, de seja lá quem for, ela brota e escapa de nós, escorrendo... E o peito doendo... E a gente se sentindo só desamparo... Mas, ela vem pesada... Vem cheia de personalidade... Na próxima vez que chorarem, e eu espero que seja de emoção boa, prestem atenção, as lágrimas vêem cheias, vêem pesadas... Elas vêem cheias de vida... E creiam, cada uma é uma, cada uma tem uma história única... Podem até ser semelhantes... Mas, iguais? Nunca! Jamé! Se quando brotam em nossos olhos, pudessem elas acreditar de alguma forma que nascem naquele instante, poderiam dizer que ali naquele momento reencarnam... Não! O termo não poderia ser esse... Já que não têm carne... Talvez (re)transparecem... (re)salgam! Restransparecerão! Ressalgação! Bonito, não? Mas, não importa! Teriam um nome para o que chamamos (re)encarnação. De qualquer forma, sinto-as cheias de vida...
Mas, nem sempre é algo desagradável que as detonam... Algo bom, alegre, que nos emocionem podem muito bem ser o gatilho... E, pronto lá vêem elas enfileiradas quase que enfeitadas a desfilarem nas passarelas de nossas faces... E as pessoas que as assistem e que vêem o brilhar que fazem ao passear geralmente também se põem a chorar, como que diante de um espelho, comovidas...
Mas, vou continuar insistindo: qual é a história de cada lágrima que vertemos? E algumas vezes perdemos... Algumas vezes prendemos... E que outras vezes se espremem e simplesmente fogem prematuras, imaturas... Inconsequentes!
Pensemos... Uma situação hipotética em que alguém ou alguns choram... Poderíamos aqui citar alguém chorando por dor física, mas não seria um bom exemplo, pois, até aqui, falamos das lágrimas vertidas e convertidas por paixões... Emoções! Portanto, deixaremos essas para um outro dia, mas já adianto a vocês que não as excluo do mesmo nicho das que aqui falei até agora, pois penso, que quando choramos na dor física, choramos muito mais pela humilhação, desolação e impotência que sentimos do que pela dor física em si... Mas, como disse, deixemo-las de lado por enquanto, são ainda mais complexas...
Penso que catarse é um bom exemplo: recordemos àquele filme ou àquela bela peça de teatro que assistimos certa vez e que de repente quando menos esperávamos não só nós, mas quase todos no recinto estavam às lágrimas de emoção... Quem já não se flagrou até meio envergonhado de em meio a estranhos diante de uma tela ou peça de repente romper em prantos? Sejam honestos agora! Por que choraram? Pela cena vista? Ou a cena fora apenas o gatilho para fazer parir as lágrimas produzidas por emoções a muito secretamente guardadas a sete chaves no peito amarrado... Amargado? Catarse pura!!! Não resistiram diante da imagem... Imagem da própria dor ou do próprio sonho desnudo! Choraram a lágrima madura, a própria lágrima, produzida pela própria dor, emoção, terror... Seja lá o que viram, choraram pelo que traziam dentro de si e só choraram pelo reflexo do que assistiam lá fora... Creiam, estavam todas aí dentro, latente, ardente só esperando o momento perfeito, a maturação completa... E há quanto tempo? Dias? Meses? Anos? Quanto tempo demora para se produzir uma lágrima? Serão como o vinho? Quanto mais velhas melhores, mais saborosas? Seu teor de sal muda, será? Dizem que o soro caseiro deve ter o gosto da lágrima, mas será que todas têm o mesmo sabor? Quem provou uma provou todas? Existe um degustador de lágrimas? Uma espécie de sommelier? Duvido! Com qual lágrima se comparou o soro, terá sido uma lágrima jovem? Terá sido de dor? De amor? Quem saberá? Bem... De qualquer forma, parece que o soro da certo, não é... Deve ter base em uma lágrima de amor... E, por falar em amor... O que dizer dos belos casamentos... Ah, como nos emocionam, não é mesmo? Diante de altares, é fácil ver noivos, pais, padrinhos, convidados e até penetras não resistirem e deixar rolar livremente as lágrimas que teimam em ali mesmo diante de todos brotarem em solo sagrado... A emoção que as detonaram não pode ser a mesma para todos, é evidente, para alguns representam um sonho realizado... Batalhado quem sabe por anos e anos, quanto sofrimento, quanta luta, e, diante do altar, a lágrima amadurecida traz toda a história que ali se finda num final feliz... Sim... Ali também começará uma outra história que com certeza trará outras tantas lágrimas que ninguém pode saber de que serão feitas... Não importa! No mesmo solo sagrado, encontramos também lágrimas de inveja e frustração... Lágrimas com histórias de lutas inglórias de soluços e fracassos, de abandonos de tentativas e erros, de humilhação, e que diante da felicidade alheia não resiste e explode como um pedido de socorro, de também quero... De to carente! Todas lágrimas grávidas e paridas! Não há ali lágrimas vazias... Todas estão cheias de vida! Alegres ou tristes: Vida!
Porém, mesmo nos lugares mais sórdidos, longe dos lugares sagrados, mesmo onde a loucura encontra seu repouso, sua acolhida, ali também há vida... Há os que acreditam que a loucura é fantasia... Doce ilusão! Lágrimas que rolam de olhos esbugalhados, que explodem em rios de águas de sombras avermelhadas, e de mãos que empunham facas, de pessoas que ameaçam, esbravejam... Fraquejam! Às vezes, mãe, mulher por muito humilhada, (des)amada, desarmada... Por muito cansada... Por muito amadurecendo lágrimas loucas, ensandecidas de carência de tudo, e um dia... Um dia algo... Às vezes tão bobo, que as fazem parecer loucas... Trazem junto com o ato descabido, a lágrima parida por tanto tempo lapidada... Trabalhada... Ao sentir o gosto de sal na boca, sabe o que significa aquele sabor... Sabe de seu desamparo, dos anos de solidão... Mesmo entre outros, encarcerada em si mesma, sabe do desespero de nunca ser entendida... De às vezes ter certeza de não ser desse planeta, desse tempo, dessa civilização... Dessa espécie! O gosto na boca lhe lembra os sonhos de infância... E estavam tão distantes, o tempo passava, e ela os renovava, ano após ano... E, no entanto, sempre iam terra abaixo... Assim como tendiam suas lágrimas paridas agora... Chegou o tempo em que nada mais havia por dentro do que lágrimas a serem paridas... Só lágrimas maduras!!! Eram os artesões loucos? As recordações eram loucas? Ou a soma do não-entender fez o mundo enlouquecer, e enlouquecido o mundo a enlouqueceu? Ah! As lágrimas enlouquecidas... Eu diria que nunca nascem de parto natural... São partos tão difíceis... Mas, embora lágrimas ensandecidas... São sempre perfeitas... São as mais bem-lapidadas... São as mais velhas com certeza! Quanto trabalho e quantos anos para se lapidar a lágrima da loucura... Quanta perspicácia! E, no entanto... São perfeitas e belas, diante do mundo que a produziu... São como a bela e a fera!
Mas, dispersemos da loucura... E, a lágrima do prazer? São tantos tipos de lágrimas, não é mesmo? E tantos os gatilhos, e tantas as emoções... A lágrima do gozo! A lágrima do orgasmo! Pérola rara... Assunto polêmico esse... Não posso falar pelos homens... Honestamente, com toda minha experiência (vasta, eu diria), nunca vi uma lágrima de gozo masculina... Mas, obviamente, não duvido que elas ocorram... Não tive o prazer de presenciar... Só isso! Quanto a mulheres... Mais polêmico ainda... Já que, se levarmos em conta as pesquisas (af, enfiei a ciência no texto), digamos que apenas uma minoria das mulheres tem o prazer do orgasmo... Pode acontecer, eu garanto a vocês, que naquele momento tão efêmero e tão esperado, junto com o gozo venha também uma lágrima... (Talvez mais, não sei.) Mas, que venha uma... Límpida, clara... Cheia! Ali, naquele momento tão íntimo, parida... Por quê? Por que aquela lágrima foi lapidada? Por favor, não vamos excluir o sexo de nossas vidas, nem tampouco de nosso texto. Sexo é vida! E, para algumas pessoas, amor! E, às vezes se espera tanto pela junção de tantas coisas: intimidade, confiança, amor, carinho e prazer... E, às vezes são tantas tentativas frustradas, tantos anos se passam e nada... Que as recordações de fracassos vão se juntando, e os artesões se põem logo a trabalhar a lágrima do prazer alcançado... E, quando ele vem... Lá vem ela junto... Linda, faceira... Sem-vergonha! Feliz e despudorada... Languidamente escorre pelo cantinho dos olhos brilhantes de prazer em meio a suores e cios a mostrar ao parceiro o que foi sentido e demonstrado por aquele parto e que talvez ele jamais conhecerá... Talvez, nem perceba... Não importa! Mas, que fique registrado, que não nos esquecemos da lágrima do prazer carnal... Animal!
É, amigos... Penso ter sido suficientemente clara: somos feitos de recordações! E essas vão pouco a pouco construindo e lapidando caprichosamente uma a uma nossas lágrimas... Trabalho de artesões... Nada de produção mecânica ou industrial... Não! Uma a uma! E, por mais que às vezes as vertemos como rios ou cachoeiras, como se fossem material banal de nosso organismo, como se fosse puro desperdício, creiam: não o é! Se tantas lágrimas temos para verter, para parir é porque vivemos e sentimos de verdade... É porque temos em nós muitos artesões incansáveis tecendo tantas recordações... Alegres ou tristes, bonitas ou feias... Estamos vivos! No exato sentido do termo: vivos!
Já conheceram pessoas de gelo? Eu sim. Não se comovem, não choram... Quase não têm expressões... Tenho medo delas! Conheci algumas pessoas assim... Muitas me fizeram chorar demais... Mas, afinal, estou viva, não é? É natural que chore... Os gelados não... O que será que fazem de suas recordações? Memória seletiva? Outra forma de viver a vida? Talvez... Mas, prefiro me manter distante deles... São capazes de matar pessoas grávidas de lágrimas sofridas...
Bem... Ontem era um puta carnaval no meu quarto... E tive que desabafar com vocês... Pensei em fazer como muitos e levar o carnaval pra minha alma... Barbitúricos, bolinhas, confetes... Não importa... Levariam um elefante à lua com certeza, e fariam a festa dos hipócritas que como abutres comemorariam minha carne engelecida... Mas, descobri que de tanto chorar... Pari tantas emoções e acabei percebendo em cada uma dessas pequenas gotas que formavam em mim um oceano, pequenos diamantes lapidados por minha vida, por minha história... Mas, só percebi quando vi, não as minhas, mas em uma outra lágrima parida na minha frente... E foi esse meu presente tão caro... Tão raro!
Diante de mim... No presente de hoje, o presente de um olhar amigo, e de tão amigo, que sequer sabia do carnaval de ontem, ao recordar tanto carinho, vi primeiro o brilho de seus olhos, depois vi seus lábios tremerem ao falar de tantas coisas vividas e vívidas ainda e enquanto falava vi brotar de seus olhos a mais bela lágrima que já vi... Juro que não havia entendido... Embasbacada, pensei: por quê? Eu sequer acredito em deus ou algo do tipo que quisesse me mostrar que não valia a pena levar o carnaval para dentro de mim... Não sei ainda... Mas, a bolinha parida diante de mim estava grávida de vida, carinho, gratidão e me atrevo a dizer eternidade! A partir daquela lágrima lapidada sabe-se lá desde quando, pude intuir o valor de cada uma das minhas próprias lágrimas... E tinham sido tantas naquele ano... Tantas! Que mesmo agora ao terminar esse texto, ainda tenho vontade de chorar... Por que não choro? Porque me lembro do presente! Aquela tristeza abortei naquele exato momento, aquela não mais será parida! Por que aquele presente me foi dado? Sequer sei se o mereci! Mas, agora sei que estamos todos grávidos de lágrimas... Choremos! Choremos e brindemos a vida que vertemos sempre de dentro para fora... Embora o construímos de fora pra dentro... Brindemos as lágrimas boas, que terminam sempre com um largo sorriso nos lábios e um brilho incrivelmente ofuscador dos olhos do chorador! Preferes um diamante? Prefiro uma bela lágrima grávida... Bem gorda mesma! Não se esqueçam: tudo o que brilha reflete... Se você prestar bem atenção, captará o brilho que a você foi presenteado... O que ganhei está aqui... Aqui mesmo! Em minha alma guardado!