quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sussurro




Fora magia... Feitiço de um momento de profundo sentir...
Talvez extrema loucura, talvez inédita lucidez... Fantasia?


Escondia dores nos vapores do álcool e desenhava o melhor sorriso nos lábios...
Meu olhar pousou no seu, era farol, era espelho que me refletiu... 
E sorriu! Seus lábios se moviam freneticamente, mas eram seus olhos que tudo diziam...
As máscaras se dissolveram no ácido desejo de ficar... 
E ficaram... Ficamos! Lembro do calor de tuas mãos orvalhando meu ser...
Teus lábios que quase devoravam os meus sempre que se calava... 
E simplesmente fomos, fomos nus, sem roupas, e do corpo despidos àquele momento... 
Lembro-me da poesia do amor que ali de presente se fazia... O corpo trêmulo, ponte que nos
embalava... 

Mas, partiu... A ponte trêmula e frágil arrebentou... O espelho se partiu... 
Restam os cacos, fragmentos do reflexo que vi... Mas, não há encaixe... 
E a ponte, agora, apenas dois corpos que balançam, cada qual em seu extremo, ao sabor do vento... 
Algo se fez de novo vapor... E, já não consigo pintar o sorriso que te sorriu... 
Às vezes, às vezes um sorriso carrega a gente... E o tempo não disfarça... Passa!
Passa fingindo-se não ser... 

Mas é! Passa majestoso, nos atravessa... Tantas vezes deixando-nos às avessas... 
Talvez na ventania deste baile, em que a todos o tempo desmascara com suas marcas, um dia
nos reencontremos e não mais nos reconheçamos... 
Talvez...

Talvez a alma sussurre esse encontro de nós dois...
Talvez...




sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Carnaval Antecipado

Simplesmente não sei o que fazer com tudo 'isto'... São doze (12!!!) páginas... Escritas em novembro de 2010; enquanto eu não tiver uma ideia melhor, as guardarei aqui... Se alguém se aventurar... Estarei aqui para ideias e sentimentos...



Carnaval antecipado
São tantas bolinhas coloridas espalhadas, que poderia se dizer que já é carnaval no meu chão... Pensei até em levar a festa para dentro de mim...Tantos confetes coloridos levariam com certeza até um elefante a lua... E não precisaria de foguetes ou fogos de artifícios, aliás, pra que mais artifícios... A vida e os “amigos” que nos cercam já nos oferecem tantos, não é mesmo? Bem... No final... Não seria com certeza uma festa assim tão divertida, seria mais uma festa trash mesmo, os “amigos” com certeza viriam todos à caráter... Fantasiados, e tais como urubus estariam todos de preto, e quem sabe até iluminariam o ambiente a luz de velas... Propiciando assim um tom mais intimista... Talvez, ficasse bonito afinal... E, com certeza bem acolhedor aos abutres que chegassem... E, creiam... Chegariam!
 Mas, eu lá sou mulher de oferecer festa para supostos ou falsos amigos? Ainda mais festas das quais, embora de corpo presente, eu mesma não me divirta? Ora, faça-me o favor... Festas... Faço questão de primeiramente e pessoalmente convidar amigos, falsos amigos e alguns inimigos também para assim me divertir mais... Sempre me divirto mais com inimigos na mesa... Afinal, são eles que mais me fazem rir... Hoje, hoje não, ontem! Ontem, pensei por algumas frações de segundo em me servir aos abutres... Mas... Não é mesmo de minha natureza... Ser prato principal ou sobremesa...
Depois de tal rápido pensar... Escolhi apenas um confete...Um! Apenas um! Aquele que melhor me caía... Até combinava com meu tom... E pluft! Capotei!
Me Contaram depois que até línguas estranhas falei... Talvez, a dos anjos... Não sei... Ufa! Ninguém desse planeta entendeu!!! Dá um medo, né? Falar dormindo... Passou... Acordei.
Acordei, amassada... Meio torturada... Atordoada... Entonturada... Mas, acordada! E, mais acordada do que nunca! O que me fez pensar naquele carnaval? O que me fez pensar em decorar a alma com tamanha quantidade de confetes? Passou! Afinal, afinal, ainda é novembro! Não sou tão louca assim, carnaval, meu filho, só em março ou fevereiro mesmo... Mas... Mas, antes dele, temos ainda o Natal...
Ah, o Natal... E, sem adentramos a seus significados mais profundos, lembremos os pequenos flocos de neves europeus, e os mais variados tamanhos de suas imitações nas árvores dos países tropicais, e o que dizer das belas e coloridas esferas que também elas enfeitam?E os confeites? Confetes de natal... Tantas guloseimas... Ah... Enfeitam a festa também, não é mesmo? Ah! Não quero pensar muito no natal... Ele também me lembra o carnaval...
Mas, esse ano, esse ano, quero um par de brincos de bolas de natal!
Engraçado como esferas... Bolinhas... Círculos lembram a vida... Será coincidência? Começamos esse bate-papo com confetes e bolinhas, fomos para flocos de neves e bolas e confeites de natal que acabaram lembrando-nos do carnaval... E, parecemos girar em círculos... Acabo assim ficando tonta! Mas, espere... Girar em círculos... Redundante não? Deixa pra lá! Digamos que seja apenas enfático! Tudo isso parece girar... Girar... Girar... Uhhhhhhhhh Giraaaaaaaaaaaando... Girando, como minha cabeça ultimamente... Em círculos! E tudo isso cheira a vida!
Barriga de grávida, vida!
Célula, vida!
Átomo, vida!
Coração, vida!
Cérebro, vida!
Roda... Roda? Fortuna!
Já se acreditou que a vida era bem representada pela roda da fortuna... Que não necessariamente era sorte ou fortuna... Mas, vida, com certeza!
Óvulo, vida? Depende... Fecundado? Vida! Não fecundado?Vazio ou Seco! Não-vida!
Quando meu quarto era um carnaval só... Quando meu chão se abria em confetes, eu era praticamente um óvulo não-fecundado... Vazia... Seca! No entanto, adulta, mulher feita... Refeita... Praticamente uma colcha de retalhos...
(Boa! Boa metáfora, afinal colcha de retalhos não tem alma... E se está no quarto, está mesmo seca...)
Não importa... Adulta, mulher feita e por várias vezes refeita! Robótica, Frankenstein... Mas, tão seca que qualquer vento que batia arrastava pra lá e pra lá, sem rumo, sem prumo... Não havia vontade que pudesse dirigir, não havia vela nem remo... Não havia motor... E tantas bolinhas coloridas... E bolinhas sempre lembram vida... Não é? É?
Há vida após a morte?
Que pergunta paradoxal!!! Palavras tão antagônicas numa mesma frase... Mas, profundas demais para um texto de tintas tão coloridas...
- Que fique claro, nesse momento de profunda e solene reflexão, que bolinhas nem sempre significam vida! Ponto! Sem interrogações, por favor.
Recortemos, no entanto, as folhas secas e o vento, nesse momento, do texto... Que o resto é só contexto...
Parem tudo o que estão fazendo agora... Parem! Parem de ler esse texto inclusive. Parem, e vão até o portão, até a janela... Se estiverem num trem ou ônibus, simplesmente olhem em volta e/ou pela janela... Se estiverem no próprio veículo, estacionem em algum lugar e observem. Não é possível que pessoas passem às vezes uma vida toda sem observar o outro... Às vezes é o outro a seu lado... Que dorme a seu lado! Não importa! Agora, quero que observem os outros, outro a outro, estranhos mesmo... O exercício é legal... Se preferirem, observem-se... Às vezes somos nós o estranho de nós mesmos! Há pessoas que nunca se observaram de verdade...
Sabem o que é reflexão? É foda de explicar... Mas, é mais ou menos o ato de se desdobrar... De se pensar... De repensar o próprio pensamento... Não importa de novo! O que importa é viajar... E o papo agora é observar... Observar o outro... Seja o outro lá fora... Ou o outro dentro de você. Pare tudo e observe... Eu espero... Vão lá!
***
Confesso que fui também... Mas, não dei sorte... É domingo, está chovendo... E não vi ninguém... De qualquer forma estou habituada a fazer isso todos os dias e todos os instantes da minha vida... Não sei se ao fazer as contas observo mais os outros eus ou observo mais os outros lá fora... Penso que mais observo meus outros eus, por isso sou tão... Como direi... Tão estranha... Aliás, podem me chamar de “bichinho exótico”... Eu gosto!
O que eu gostaria que vocês notassem? Primeiro, que com vento ou sem vento, há pessoas, que apenas pelas expressões marcadas nos rostos, apenas pela postura no andar... Às vezes pela melancolia no olhar... A gente nota que estão apenas sendo arrastadas pela vida... Estão secas! Outras pelo contrário, mas pela observação das mesmas características: postura, olhar e expressões, que nessas são contrárias, o que nas outras eram densas e pesadas, nestas são alegres e leves também são arrastadas... Umas pelas tristezas e por elas secaram... Outras pelas alegrias e por elas cegaram... E, no entanto, cada uma a seu jeito não percebeu que de repente um vento bateu e as levaram para algum lugar que não escolheram... E algum filósofo de plantão dirá: é... Isso é paixão... O resto é ação! Bonito isso! Difícil seria dizer ou explicar como agir num vendaval mundano desses... O fato é: folha seca ou folha verde nada escapa ao vendaval da vida... Folhas, gravetos e até fortes tocos estão frequentemente sendo arrastados... E quando nos vemos, estamos sós ou rodeados por pseudo-amigos, pseudo-amantes, pseudo-sabe-se-lá-o-quê! E daí? Como chegamos aqui?
Será que você já esteve naquele quarto cheio de confetes? Ou pelo menos em algum lugar parecido? Vou te dizer como é que se chega lá... Primeiro você, claro que sem notar, tem de ter enfrentado muito vento pela proa, vindos do norte, noroeste e o ‘escambal’... Deve ter rido muito e confiado muito... Deve ter se sentido a pessoa mais feliz do mundo... Deve ter se dado à vida como ninguém... Deve ter amado a vida... Deve ter se encantado com as flores e a beleza dos pássaros... Deve já ter segurado um recém-nascido nos braços ou quem sabe um pequenino pássaro e se emocionado com sua fragilidade... Deve claro ter se decepcionado com os que amou, e esses sem dó claro te apunhalaram bem onde você havia mostrado que doía mais...(Metaforicamente ou não!) Deve ter amado tanto que por isso mesmo chorou rios e mares... Lembram o poetinha? “Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mais sabe menos do que eu... Por que a vida só se da pra quem se deu... Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu...” Deve ter tido um dia a sensação de possuir entre as mãos o que de mais puro pode haver neste mundo de lama e maldades e de repente vê-lo se perder ou se corromper como qualquer verme nojento... Asqueroso! Teve náuseas... É neste momento que se fica catatônica... Seca...
Pronto! Retornamos ao quarto! Seca! Secas? Secos? Verdes? Tocos? Gravetos?
Não importa...
Tudo o vento transporta...
E quando nos vemos, o chão se abre e tudo pode ser um grande carnaval...
Novembro, Janeiro... Março... Outubro, quem sabe, quando as folhas são ainda mais secas...
Mas... Mas, mesmo nos carnavais atuais há confetes e serpentinas... E ainda nos natais há neve e bolas coloridas... Confeites e guloseimas... Presente!
Serpentinas, confetes e bolas... Tudo bem colorido, por favor! Festa! Alegria! Vida! E de repente no meio da festa... Há os que não resistem o glamour dos grandes carnavais... E diante do colorido... Diante do Frenesi... No espelho, confusos, entre a pureza e o verme que dela vê purgar... Na Esperança do grande êxtase, dão à alma seu carnaval... Aos que passam, a cena é sempre outra, o foco é outro; eu diria que: houve-se a marcha parar, pode-se ver uma nuvem negra tudo cobrir, e sentir como que uma chuva de falsas lágrimas parecer chorar o morto que parecia dançar o carnaval de confetes e serpentinas... Pierrôs e Colombinas destoam com suas máscaras diante de todas as outras que passam despercebidas... Todos em volta, com flores e comoções, parecem tão comovidos ao recolher os confetes do chão... Ao cruzarem as mãos... Ao limparem o vermelho que o baile causou... E, no entanto, não tiram suas máscaras jamais... Aliás, nem mais a sentem... Mas, são de gente... Isso são! Mas, não quero falar de hipócritas! De hipocrisias... Me desculpem se utilizei muitas metáforas... Mas penso que fui bem clara... Um vento bate e de repente moço você se vê num lugar qualquer... Onde não planejou estar... De repente está grisalho e não dá mais tempo voltar... Não adianta chorar... Vai doer... Vai rasgar... A consciência um dia chega e desfaz as malas, e você onde estará e com quem? Quem deixou pra trás... Valeu quem magoou quem fez chorar? O que comprou, o que poupou valeu o que não viveu? Valeu o que matou o que morreu? Ainda lembra quem é você?
Mas, já enterramos nosso falecido, que não resistiu a esse mundo-cão... Enterremos também esse papo-cão...
***
Sejamos ingênuos agora...
Quero falar de algo tão lindo... Tão lindo, que não conseguia... Com tanta coisa dolorida em volta... Tanta coisa feia...  Eu precisava falar delas primeiro... Elas são minha introdução... E, já me desculpo, por isso...Talvez, vocês não precisassem desse “puxão de orelhas”, mas eu precisava me purificar... Precisava me purgar... Precisava vomitar essas bolinhas que nem sempre são más... Na verdade, penso que o mal é um momento... Um momento em que há uma configuração louca em que parece que tudo está contra você e você de fato se convence disso... Mas... Deixemos isso pra lá... Quero agora falar de uma bolinha linda...Uma específica... Linda mesma! Vão gostar... Escutem!
Algo que é vida pura, de tão puro que é transparente... E, como todo transparente, tudo reflete e faz refletir...
Calma... Estou tentando alcançar...
Ontem, (Lembram?) quando meu chão se abria em confetes, eu quase perdi o hoje... E o hoje como se chama?
Presente!
E o hoje me traria de presente... Me trouxe uma bolinha tão linda... Tão inesperada... Aliás... Uma daquelas bolinhas que a gente espera a vida toda, mas de fato não acredita que exista... Apenas tem esperança que haja...
Não há dinheiro no mundo que a compre... Eu garanto!
Se há algum materialista, que ainda esteja lendo este texto...(Ou me ouvindo...) Pare agora! Não há nada aqui que o interesse... Que lhe possa ter algum valor!
Queime-o agora, amasse-o. Jogue-o fora! (Não consigo conceber um materialista lendo este texto e chegar até aqui...) Em que mundo nós estamos?
Falamos aqui de algo que faz os olhos brilharem mais do que diamantes ou quaisquer outras pedras preciosas... Eu falo da lágrima... Lágrimas... E tanto a produzimos, não é mesmo! Mas, há lágrimas de todos os tipos e para todas as ocasiões e emoções: desespero, dor, espanto, horror, tristeza, mágoa, felicidade, alegria, comoção... Não vamos questionar os caminhos científicos das lágrimas... Quero saber do que são feitas... De que são preenchidas... Mas, não quero saber sua fórmula química... Quero seu conteúdo emocional...
Notem, há lágrimas que simplesmente escorrem timidamente, silenciosas... Outras parecem explodir... Parecem que vão pular, saltarem feito pipocas rosto a fora... Outras só vêem em bandos... E, por isso, parecem verdadeiros rios... Parecem que não vão parar nunca... As silenciosas... Essas são solitárias... Vêem calmas... Uma após a outra... São ordeiras... Parecem formar uma fila... Às vezes, é uma só que rola, apenas uma! Mas, fica estampado no rosto, que há uma verdadeira multidão guardada no peito... A pessoa parece até que vai enfartar... Parece que engoliu um pato com farofa e tudo... Mas, engole em seco, e secos ficam os olhos... Enfim... Há mesmo uma infinidade de tipos e manifestações de lágrimas... Mas, por quê? Cada emoção, cada paixão, produz um tipo de lágrima ou manifestação de lágrima? Ou depende do caráter da pessoa? Hum... Penso que adentramos a campos específicos... Mas, que é de se pensar é... Mas, pensemos outro dia... Quem sabe pesquisemos até... Mas, o que me fascinou... O que me fascina nas lágrimas é mesmo sua personalidade... É isso, vou chamar de sua personalidade... Já que cada uma tem a sua... Digo então que, cada lágrima tem uma personalidade, acho bem justo! E isso me fascina...
Você (é, você mesmo, que me lê, que me escuta) e eu somos pessoas diferentes, com histórias de vida diferentes, logo, com personalidades diferentes, não é mesmo? Concorda? É nisso que eu queria chegar... Qual é a história de cada lágrima que derramamos... Você acredita que ela nasce naquele exato instante em que brota de seus olhos? Esqueçamos as lágrimas sem emoções e sem paixões... Então, lá estou a cortar cebolas, e imediatamente meus olhos começam a lacrimejar... Se eu não me aproveito desse momento para descarregar emoções há muito guardadas (acredito que há essa possibilidade), penso que essas lágrimas provocadas pela cebola sequer nasceram, são lágrimas vazias... São lágrimas abortadas... E todas as lágrimas provocadas por aparelhos médicos, por exemplo, poeiras e coisas do tipo, são como ovos não-galados, são como menstruação ou aborto... Enfim, lágrimas ocas... Vazias...(Embora, reconheça que abortos não sejam vazios...) Eu poderia dizer, num atrevimento poético: não-lágrimas... E, delas já falei demais... Quero falar das cheias de vida e histórias... Das com personalidades!
O que perguntei e repito foi: você acredita que a lágrima nasceu naquele exato momento em que brotou dos seus olhos? Esqueça a tia recalcada da ciência... Não a quero rondando meu texto! Xô!
Claro que há sempre algo que detona nossas lágrimas... Às vezes, um grito, uma palavra (mal)dita... Uma ofensa... Que dói lá no fundo do peito... Já choraram essa lágrima que saí lá do fundo do peito que dói mesmo... Fisicamente dói... Mas, dói mais que físico... Que parece mesmo haver uma alma que dói junto... E, aí não conseguirmos mesmo, seja lá onde estivermos, na frente, de seja lá quem for, ela brota e escapa de nós, escorrendo... E o peito doendo... E a gente se sentindo só desamparo... Mas, ela vem pesada... Vem cheia de personalidade... Na próxima vez que chorarem, e eu espero que seja de emoção boa, prestem atenção, as lágrimas vêem cheias, vêem pesadas... Elas vêem cheias de vida... E creiam, cada uma é uma, cada uma tem uma história única... Podem até ser semelhantes... Mas, iguais? Nunca! Jamé! Se quando brotam em nossos olhos, pudessem elas acreditar de alguma forma que nascem naquele instante, poderiam dizer que ali naquele momento reencarnam... Não! O termo não poderia ser esse... Já que não têm carne... Talvez (re)transparecem... (re)salgam! Restransparecerão! Ressalgação! Bonito, não? Mas, não importa! Teriam um nome para o que chamamos (re)encarnação. De qualquer forma, sinto-as cheias de vida...
Mas, nem sempre é algo desagradável que as detonam... Algo bom, alegre, que nos emocionem podem muito bem ser o gatilho... E, pronto lá vêem elas enfileiradas quase que enfeitadas a desfilarem nas passarelas de nossas faces... E as pessoas que as assistem e que vêem o brilhar que fazem ao passear geralmente também se põem a chorar, como que diante de um espelho, comovidas...
Mas, vou continuar insistindo: qual é a história de cada lágrima que vertemos? E algumas vezes perdemos... Algumas vezes prendemos... E que outras vezes se espremem e simplesmente fogem prematuras, imaturas... Inconsequentes!
Pensemos... Uma situação hipotética em que alguém ou alguns choram... Poderíamos aqui citar alguém chorando por dor física, mas não seria um bom exemplo, pois, até aqui, falamos das lágrimas vertidas e convertidas por paixões... Emoções! Portanto, deixaremos essas para um outro dia, mas já adianto a vocês que não as excluo do mesmo nicho das que aqui falei até agora, pois penso, que quando choramos na dor física, choramos muito mais pela humilhação, desolação e impotência que sentimos do que pela dor física em si... Mas, como disse, deixemo-las de lado por enquanto, são ainda mais complexas...
Penso que catarse é um bom exemplo: recordemos àquele filme ou àquela bela peça de teatro que assistimos certa vez e que de repente quando menos esperávamos não só nós, mas quase todos no recinto estavam às lágrimas de emoção... Quem já não se flagrou até meio envergonhado de em meio a estranhos diante de uma tela ou peça de repente romper em prantos? Sejam honestos agora! Por que choraram? Pela cena vista? Ou a cena fora apenas o gatilho para fazer parir as lágrimas produzidas por emoções a muito secretamente guardadas a sete chaves no peito amarrado... Amargado? Catarse pura!!! Não resistiram diante da imagem... Imagem da própria dor ou do próprio sonho desnudo! Choraram a lágrima madura, a própria lágrima, produzida pela própria dor, emoção, terror... Seja lá o que viram, choraram pelo que traziam dentro de si e só choraram pelo reflexo do que assistiam lá fora... Creiam, estavam todas aí dentro, latente, ardente só esperando o momento perfeito, a maturação completa... E há quanto tempo? Dias? Meses? Anos? Quanto tempo demora para se produzir uma lágrima? Serão como o vinho? Quanto mais velhas melhores, mais saborosas? Seu teor de sal muda, será? Dizem que o soro caseiro deve ter o gosto da lágrima, mas será que todas têm o mesmo sabor? Quem provou uma provou todas? Existe um degustador de lágrimas? Uma espécie de sommelier? Duvido! Com qual lágrima se comparou o soro, terá sido uma lágrima jovem? Terá sido de dor? De amor? Quem saberá? Bem... De qualquer forma, parece que o soro da certo, não é... Deve ter base em uma lágrima de amor... E, por falar em amor... O que dizer dos belos casamentos... Ah, como nos emocionam, não é mesmo? Diante de altares, é fácil ver noivos, pais, padrinhos, convidados e até penetras não resistirem e deixar rolar livremente as lágrimas que teimam em ali mesmo diante de todos brotarem em solo sagrado... A emoção que as detonaram não pode ser a mesma para todos, é evidente, para alguns representam um sonho realizado... Batalhado quem sabe por anos e anos, quanto sofrimento, quanta luta, e, diante do altar, a lágrima amadurecida traz toda a história que ali se finda num final feliz... Sim... Ali também começará uma outra história que com certeza trará outras tantas lágrimas que ninguém pode saber de que serão feitas... Não importa! No mesmo solo sagrado, encontramos também lágrimas de inveja e frustração... Lágrimas com histórias de lutas inglórias de soluços e fracassos, de abandonos de tentativas e erros, de humilhação, e que diante da felicidade alheia não resiste e explode como um pedido de socorro, de também quero... De to carente! Todas lágrimas grávidas e paridas! Não há ali lágrimas vazias... Todas estão cheias de vida! Alegres ou tristes: Vida!
Porém, mesmo nos lugares mais sórdidos, longe dos lugares sagrados, mesmo onde a loucura encontra seu repouso, sua acolhida, ali também há vida... Há os que acreditam que a loucura é fantasia... Doce ilusão! Lágrimas que rolam de olhos esbugalhados, que explodem em rios de águas de sombras avermelhadas, e de mãos que empunham facas, de pessoas que ameaçam, esbravejam... Fraquejam! Às vezes, mãe, mulher por muito humilhada, (des)amada, desarmada... Por muito cansada... Por muito amadurecendo lágrimas loucas, ensandecidas de carência de tudo, e um dia... Um dia algo... Às vezes tão bobo, que as fazem parecer loucas... Trazem junto com o ato descabido, a lágrima parida por tanto tempo lapidada... Trabalhada... Ao sentir o gosto de sal na boca, sabe o que significa aquele sabor... Sabe de seu desamparo, dos anos de solidão... Mesmo entre outros, encarcerada em si mesma, sabe do desespero de nunca ser entendida... De às vezes ter certeza de não ser desse planeta, desse tempo, dessa civilização... Dessa espécie! O gosto na boca lhe lembra os sonhos de infância... E estavam tão distantes, o tempo passava, e ela os renovava, ano após ano... E, no entanto, sempre iam terra abaixo... Assim como tendiam suas lágrimas paridas agora... Chegou o tempo em que nada mais havia por dentro do que lágrimas a serem paridas... Só lágrimas maduras!!! Eram os artesões loucos? As recordações eram loucas? Ou a soma do não-entender fez o mundo enlouquecer, e enlouquecido o mundo a enlouqueceu? Ah! As lágrimas enlouquecidas... Eu diria que nunca nascem de parto natural... São partos tão difíceis... Mas, embora lágrimas ensandecidas... São sempre perfeitas... São as mais bem-lapidadas... São as mais velhas com certeza! Quanto trabalho e quantos anos para se lapidar a lágrima da loucura... Quanta perspicácia! E, no entanto... São perfeitas e belas, diante do mundo que a produziu... São como a bela e a fera!
Mas, dispersemos da loucura... E, a lágrima do prazer? São tantos tipos de lágrimas, não é mesmo? E tantos os gatilhos, e tantas as emoções... A lágrima do gozo! A lágrima do orgasmo! Pérola rara... Assunto polêmico esse... Não posso falar pelos homens... Honestamente, com toda minha experiência (vasta, eu diria), nunca vi uma lágrima de gozo masculina... Mas, obviamente, não duvido que elas ocorram... Não tive o prazer de presenciar... Só isso! Quanto a mulheres... Mais polêmico ainda... Já que, se levarmos em conta as pesquisas (af, enfiei a ciência no texto), digamos que apenas uma minoria das mulheres tem o prazer do orgasmo... Pode acontecer, eu garanto a vocês, que naquele momento tão efêmero e tão esperado, junto com o gozo venha também uma lágrima... (Talvez mais, não sei.) Mas, que venha uma... Límpida, clara... Cheia! Ali, naquele momento tão íntimo, parida... Por quê? Por que aquela lágrima foi lapidada? Por favor, não vamos excluir o sexo de nossas vidas, nem tampouco de nosso texto. Sexo é vida! E, para algumas pessoas, amor! E, às vezes se espera tanto pela junção de tantas coisas: intimidade, confiança, amor, carinho e prazer... E, às vezes são tantas tentativas frustradas, tantos anos se passam e nada... Que as recordações de fracassos vão se juntando, e os artesões se põem logo a trabalhar a lágrima do prazer alcançado... E, quando ele vem... Lá vem ela junto... Linda, faceira... Sem-vergonha! Feliz e despudorada... Languidamente escorre pelo cantinho dos olhos brilhantes de prazer em meio a suores e cios a mostrar ao parceiro o que foi sentido e demonstrado por aquele parto e que talvez ele jamais conhecerá... Talvez, nem perceba... Não importa! Mas, que fique registrado, que não nos esquecemos da lágrima do prazer carnal... Animal!
É, amigos... Penso ter sido suficientemente clara: somos feitos de recordações! E essas vão pouco a pouco construindo e lapidando caprichosamente uma a uma nossas lágrimas... Trabalho de artesões... Nada de produção mecânica ou industrial... Não! Uma a uma! E, por mais que às vezes as vertemos como rios ou cachoeiras, como se fossem material banal de nosso organismo, como se fosse puro desperdício, creiam: não o é! Se tantas lágrimas temos para verter, para parir é porque vivemos e sentimos de verdade... É porque temos em nós muitos artesões incansáveis tecendo tantas recordações... Alegres ou tristes, bonitas ou feias... Estamos vivos! No exato sentido do termo: vivos!
Já conheceram pessoas de gelo? Eu sim. Não se comovem, não choram... Quase não têm expressões... Tenho medo delas! Conheci algumas pessoas assim... Muitas me fizeram chorar demais... Mas, afinal, estou viva, não é? É natural que chore... Os gelados não... O que será que fazem de suas recordações? Memória seletiva? Outra forma de viver a vida? Talvez... Mas, prefiro me manter distante deles... São capazes de matar pessoas grávidas de lágrimas sofridas...
Bem... Ontem era um puta carnaval no meu quarto... E tive que desabafar com vocês... Pensei em fazer como muitos e levar o carnaval pra minha alma... Barbitúricos, bolinhas, confetes... Não importa... Levariam um elefante à lua com certeza, e fariam a festa dos hipócritas que como abutres comemorariam minha carne engelecida... Mas, descobri que de tanto chorar... Pari tantas emoções e acabei percebendo em cada uma dessas pequenas gotas que formavam em mim um oceano, pequenos diamantes lapidados por minha vida, por minha história... Mas, só percebi quando vi, não as minhas, mas em uma outra lágrima parida na minha frente... E foi esse meu presente tão caro... Tão raro!
Diante de mim... No presente de hoje, o presente de um olhar amigo, e de tão amigo, que sequer sabia do carnaval de ontem, ao recordar tanto carinho, vi primeiro o brilho de seus olhos, depois vi seus lábios tremerem ao falar de tantas coisas vividas e vívidas ainda e enquanto falava vi brotar de seus olhos a mais bela lágrima que já vi... Juro que não havia entendido... Embasbacada, pensei: por quê? Eu sequer acredito em deus ou algo do tipo que quisesse me mostrar que não valia a pena levar o carnaval para dentro de mim... Não sei ainda... Mas, a bolinha parida diante de mim estava grávida de vida, carinho, gratidão e me atrevo a dizer eternidade! A partir daquela lágrima lapidada sabe-se lá desde quando, pude intuir o valor de cada uma das minhas próprias lágrimas... E tinham sido tantas naquele ano... Tantas! Que mesmo agora ao terminar esse texto, ainda tenho vontade de chorar... Por que não choro? Porque me lembro do presente! Aquela tristeza abortei naquele exato momento, aquela não mais será parida! Por que aquele presente me foi dado? Sequer sei se o mereci! Mas, agora sei que estamos todos grávidos de lágrimas... Choremos! Choremos e brindemos a vida que vertemos sempre de dentro para fora... Embora o construímos de fora pra dentro... Brindemos as lágrimas boas, que terminam sempre com um largo sorriso nos lábios e um brilho incrivelmente ofuscador dos olhos do chorador! Preferes um diamante? Prefiro uma bela lágrima grávida... Bem gorda mesma! Não se esqueçam: tudo o que brilha reflete... Se você prestar bem atenção, captará o brilho que a você foi presenteado... O que ganhei está aqui... Aqui mesmo! Em minha alma guardado!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ora Até que Enfim



Ora até que enfim..., perfeitamente...

Cá está ela!
Tenho a loucura exatamente na cabeça.
Meu coração estourou como uma bomba de pataco,
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima...


Graças a Deus que estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo quanto fui se me atou aos pés,
Como a sarapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada!


Graças a Deus, porque, como na bebedeira,
Isto é uma solução.
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago!
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos!
Poesia transcendental, já a fiz também!
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram!
A organização de poemas relativos à vastidão de cada assunto resolvido em vários —
Também não é novidade.
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o.
Com esforço, mas era para bom fim.
Ao menos era para um fim.
E assim como sou não tenho nem fim nem vida...


Álvaro de Campos, in "Poemas"

terça-feira, 1 de novembro de 2011

...
E queria me rasgar, dilacerar, virar do avesso, ser!

Ser visceral...

E me mostrar inteira, e mesmo que por berros todos fossem acordados por tamanha aberração sentida e denunciada...

Depois do espanto, amada!
 ...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

...
E marejados, os olhos
no reflexo do outro,
Nevavam...

Lágrimas e sangue escorriam nas
brancas
mãos...

E no entanto...
no entanto,

O coração arrancado
Ainda pulsava na mesma
fria mão...
 
 ...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011


...
Ouvia-se o eco de lamento de uma alma que já não mais suportava o frio que a corroía,
e junto o corpo ardia...
Cada parte do corpo pulsava, latejava; doía!
Mesmo tremula diante do vulcão que a abraçou, 
não titubeou: 
se entregou! 
E entre lavas, aquecida...
gozou!
...
 


sábado, 27 de agosto de 2011

A busca como 'objeto'...


....

Toda esta incessante busca de por mar ou terra buscar no outro encontrar tal oásis de paz e re/pousar; sentir, ouvir e escutar.

Abraçar outras dores, soprá-las, fazerem-nas voar... Sonhar! Crer no bem e sê-lo também!

Abraçar os sonhos e senti-los; sabê-los reais; mesmo que se desfaçam como quimeras que eram; não importa! 

O amor é esta busca, este encontrar; até mesmo o desencontro que nos move e nos faz acreditar!

O amor é ser que em tudo está e, no entanto, ansiamos buscar...'

...

(Estas linhas foram inspiradas pelo desafio lançado pela Tv Cultura em sua promoção: http://cmais.com.br/qual-e-a-sua-definicao-de-amor da qual fiz questão de participar...)




sábado, 30 de julho de 2011



...

Sufocava...

Afogara-se...

Talvez, no fundo do mar, dormente...

Não se sabia a pobre demente até se ver como pesca em desespero pescada!

Acordada; viu-se por rede emaranhada...

Resgatada!

Não entendia...

Assustou-se!

Debateu-se...

Cansou!

Entregou-se...

Enfim, respirou!

Entendeu...

Ressuscitou nos braços de um novo amor...

Suspirou!

...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Encegue/sendo...

...
E são tantos os mistérios...

E há tanta magia na vida!

E tantos a passear por ela devagar ou com pressa que sequer conseguem ouvir os ecos que dentro deles alertam para o sentir... E divagar...

E tudo... Tudo mesmo pode em minutos mudar o sentido; re/ver/ter os sentidos dos sentidos...



E quem sabe, se se deixarmos de tentar entender sem ver... Num fechar de olhos, com a alma na ponta dos dedos talvez... Ou apenas seguir o próprio pulsar... Quem sabe, de repente, não ultrapassemos determinada linha imaginária, e, em outra dimensão, nos encontraremos...

E tudo real...

Se vês é real?

Mas com o quê? Com qual sentido vives e conheces o mundo, o outro a seu lado? Você?!

Não! O real não é o que vejo... O real é o que sinto e o que sinto sentirem...

E por que tantos fecham os olhos em entrega a um beijo apaixonado? Ou àquele beijo curioso... Sedento de experimentação... Ao beijo esperado, ou inesperado... Beijo sonhado?

E num beijo há tantas sensações e emoção...

Fechamos instintivamente os olhos para sentir o pulsar nele invisível... Tangível...

E o beijo é sempre pelas mãos buscado...

Re/parem!



Peles que se arrepiam e são tateadas... Coração que dispara... pernas que amolecem... Entrega que não se pode com os olhos ver... Enxergar!

Um beijo é um pré/sentimento que traz e busca tanto... E, tateando, as mãos buscam cada arrepio, cada pedaço do outro conhecer com a alma nelas pousada...

E há tanta beleza num beijo que a visão não pode nos mostrar...

E alguns são avassaladores e em tormentas sugam tanto que exigem re/provação... Viciam de tanta emoção...

E são um passo para a pura magia.. Alquimia da sedução... E, pura sede/são!

Certa vez, um beijo me adormeceu... Com um beijo também se mata... Com um beijo fingido as portas são fechadas... E, no entanto, mesmo isolada, o frio se faz na alma, no corpo e no coração que não mais dispara... E diz/para! São um basta às ilusões...

Nada visto, só sentido...

Aprendamos a enceguecer para melhor ver... Enxergar com a alma de/cor intuída...

E um beijo pousa de repente, e o mundo se cala... Enceguecemos... E há tantos sentidos que despertam...

Prestem atenção...

E assim, em outra dimensão, em um beijo que se fez vários... Senti, em meus braços que abraçavam, a falta de asas do anjo que em mim, no tombo caído, pousara...

E o anjo caído... Tinha de ser mesmo por meus braços amparados....

E tão confuso neste mundo tão 'real'... Tanta pureza no olhar... E tantas dores pelas asas arrancadas...

E queria voar!!! Mas neste mundo e sem asas como voaria?

E mesmo sem as asas, pela confusão povoado... Quanta proteção proporcionava...

Um anjo com estrelas no olhar... Com promessas de grande a/mar...

A prova encarnada de que o real é ilusório e que os sonhos são possíveis... Até tangíveis!

Perdido... Perdido e entre/laçado aos braços de uma perdida...

Perdida de tanto voar de um mundo dito real para o dos sonhos sentidos e vividos...

E num beijo de pura emoção... Se encontraram...

Se encantaram!

E de mãos entrelaçadas... Agora voam, mesmo sem asas, a provar que o que se vê não é real...

Que o que se sente é palpável...

E a poesia que se fez em carne fecha os olhos, une os lábios... E tudo faz sentir, tudo é tocado!

E na sinfonia desta emoção, voam mesmo sem direção!


...

sábado, 2 de julho de 2011

real/mente?


...

Era uma vez...

Era uma vez, um sonho!

Um sonho acordada...

Acordada?

Talvez não... Como se sabe quando se está acordada?

Mas, sim, talvez fosse um sonho!

A menina que crescera ouvindo contos de fada havia finalmente encontrado seu príncipe...

Mas, não era o príncipe encantado como àqueles que lhe contava os contos; era mesmo real...

Como se sabe o que é real e o que é imaginário?

Bem... Ela se sentia acordada e acreditava ter encontrado seu príncipe!

Fato!

E em seu sonho a ele se entregou...

E na entrega entregara tudo o que lhe era mais caro...

Entregou tanto que um dia acordou sem o próprio amor... Esgotara-se...

Empobrecera...

A menina, que encontrou em um sonho seu príncipe, se viu mendiga...

Saqueada!

Sua alegria também havia sido roubada...

Banhava-se de lágrimas e assim tentava purificar-se...

Exorcizar tanta dor... tanta falta de amor!

E o príncipe mais riquezas acumulava...

E como crescia a cada flecha que no peito da menina atirava!

Ela sangrava...

E ele nobre e valente se orgulhava da pontaria...

Além de muito rico, diante da mendiga, quanto mais enfraquecida a via... Mas, forte se fazia...

Se sentia!

No reino/mundo ninguém mais aceitava a monarquia... E longe da menina era ele quem mendigava...

Mas, riam-se do pobre coitado que chegou a engraxar sapatos com a própria língua para manter os seus reais...

E ganancioso que era...

Ambicioso, pretensioso... Arrogante; queria mais! Queria ser forte, mas não sabia ser!

Tudo o que queria era ter...

Todos riam do pobre coitado...

Açoitado!

Mas, ele... Ele 'sabia' onde poderia ser príncipe! Sabia que a menina com olhos cumpridos a amá-lo o esperava...

Então ele ia a seu encontro...
E de encontro a ela, do mundo nela se vingava!

E quanto mais a pisava... Mais gigantesco se tornava...

Mas, um dia...

Um dia, a menina com um beijo do príncipe que sentia... Adormeceu!

Adormeceu... Adormeceu abraçada a seus sonhos que a beijava e repetia que a amava... Sonho tão sonhado que há muito desbotara...

Despertou...

Olhou em volta e surpresa se viu só...

Então olhou pra si... E se viu e refletiu...

Maltrapilha, sangrando, quase sem forças...

Acordou!

Não era um sonho o que tivera... Tudo não passara de uma quimera!



E o sapo, que a beijou tão ternamente como há muito não fazia, covardemente havia pulado de sua cama enquanto ela ainda adormecia, e, sem se despedir, pulou e a deixou...

Onde está o sapo agora a coaxar? Está onde nunca deixou de estar... Ela inebriada é que não via...

Junto de outros sapos à beira de algum córrego lamacento a sonhar ser príncipe encantado...

A menina agora acordou...

Acordou ensanguentada e por lágrimas povoada...

Mas, acordada!

Como se sabe quando se está realmente acordado?

...

domingo, 26 de junho de 2011

Selinho/carinho...

Recebi esse selo carinhoso da @thati_Vaz , do blog http://petalasdesentimentos.blogspot.com/

E encantada com o carinho o retribuo, dividindo-o com alguns dos tantos amigos que por aqui fiz... Pena que só posso mencionar alguns...
 

De qualquer forma aceitem como um selinho de puro carinho :)




As regras são:
1. Exibir a imagem do prêmio:
2. Postar o link do blog que premiou
3.Publicar as regras.
4. Indicar 10 blogs para receberem.
5. Avisar os indicados.


Agora vou inidcar os meus blogs:

Blog de @max_psycho : http://www.maxpsycho.blogspot.com/
Blog de @_thewell : http://daremdoido.blogspot.com/
Blog de @Delikda
: http://umacombinacaoperfeita.com.br/
Blog da Catia Bosso : http://catiabossopoesias.blogspot.com/
Blog da @KikaChrys : http://kikachris.blogspot.com/
Blog da @Sil_FM : http://jardim-dos-girassois.blogspot.com/
Blog da @tatikielber : http://retratosdaalma.com.br/
Blog da @Lenasim : http://amadeirado.blogspot.com/
Blog de @DitopeloMaldito : http://ditospelomaldito.blogspot.com/ 

Blog de @IsabelaZ09 : http://apenas-isa.blogspot.com/






sábado, 11 de junho de 2011

RESSACA BEIRA A/MAR





Tarde sombria e nebulosa...

Mas, a noite passada já prometia o dia seguinte encoberto...

E entre/cobertas a menia fingia para que não se descobrissem sua saudade in/coberta...

E na quietude que fingia no corpo, a alma gritava dilacerando-o...

Calou-se: engoliu o choro que de seus olhos como rio desaguava de mansinho até seus lábios que gota a gota encontrava-se com a saliva como com o mar em sua boca...

E corpo e alma unidos eram só águas... por mar/aguados...

Os gemidos da alma, que já de ti queria partir, não foram nenhum pelo corpo parido...

Tudo sufocado, estrangulado, trancado...

Só as águas não podiam ser represadas...

Transbordavam!

E as lágrimas que degustava lhe trazia o sal... mas eram doces também...

Havia tantos que a podiam ver e consolá-la...

Mas, não queria consolo, carinhos de outros... Não havia nada fora de si que a pudesse tocar...

Já havia vívido e gritante um amor pela alma pintado...

Este era o doce que o sal adocicava!

E o corpo pela alma se deixou levar... E/levar... Levado e elevado!

Naquela tarde sombria e nebulosa, resolveu que não mais abraçaria em abstrações um amor tão delicado – obra de sua alma que o imaginava e pintava.

Decidida foi à beira-mar... E bem poucos estavam lá...



Estava frio... Muito frio...

O céu bravio respondia com nebulosas escuras às ondas que em ressacas arrebentavam nos rochedos da margem, assim como a alma da menina que sucumbia: agitada, marejada e querendo algo sólido pra se agarrar ou também arrebentar...

E de ímpeto se inspirou... Aspirou as brisas que em ondas sentia...

E tal como o criador original, no vazio que se fazia, com a areia que em seus pés sentia, pôs-se a esculpir, erguendo, dando forma, ao amado que em si vivia...

Também a areia estava úmida e fria...

Fechou os olhos para melhor visualizar a obra que em si sentia, ouvia... E sabia... Jamais esqueceria!

De punhado em punhado... Tudo dedilhado e acariciado... Assim, de areia, esculpiu como homem a estátua de seu amor...

Mas, não havia cor... O que produzira estava cinzento como o dia que a emoldurava...

Contornou os olhos de sua obra à imagem e semelhança do que sentia em sua alma e re/tocou-os para que o olhar estivesse a mirar sorrindo os seus...

Mas havia de serem mais escuros... Assim como as nuvens agora também escureciam...

Diante de ti tinha agora seu amor esculpido...

Mas, ainda faltava tanto... Sobretudo faltava-lhe vida!

E lágrimas brotaram de seus olhos... Vida chovida...

Mas ali diante de si havia mais do que jamais tivera de seu sonho que tanto quisera concretizar...

E de olhos fechados... Docemente o acariciou... Quis lhe dar seu calor...

Quase nem notou... Mas, um caco de vidro cortado e jogado por seus pés foi pisado...

Sangrou!

Encantou-se com a cor... tinta/vida que a seu amado faltou...


E enlouquecida com o caco já nas mãos... Pôs-se se a/riscando... Gota a gota a banhar seu amor!

E sentiu-lhe a vida brotar...

Largou o caco, que cacos nada mais são do que fragmentos de algo que um dia foi... Assim como àquela saudade doída de abraçar o que nunca abarcou...

Abraçou seu amor tingido de rubra cor, e assim nele aninhada... 



Chorou!

O céu de nuvens re/voltadas, de inveja talvez, se fez em bravia tempestade...

E a criatura abraçada a sua amada... Por sal e sangue banhada... Agora, era aos poucos devorada, corroída e intempestivamente pela chuva desmanchada...

E no vazio que a levara até à beira-mar... A doida sofrida se viu de repente ao nada abraçada...

Desmanchou-se em águas também e com a boca colada à areia/chão... Em carne viva e de olhos fechados, por lágrimas vazadas e por sal salpicados... Beijou o que dele restou...




Sal adocicado!

E o mar também se re/voltou!

Ah/mar que sabias tudo de si e de todos que testemunhava há/mar, amando-se!

E como supremo ser sentido... Em gigantesca onda se levantou...



Em reposta à tempestade que insensível assistia tal amor se desmanchar em tantos líquidos derramados; resolveu ele batizar e/ternamente àquele amor...

Inflou-se de ares e brisas e de um só impulso os tragou!

Viu bem o último olhar que ardia da mulher que agradecida entregou-se sem pudores a sua piedade de amor...

Levava os punhos cortados... Porém com areias em punho cerrado...

Seu último olhar antes de pela onda ser abraçada refletia a imagem do ser amado por ela carregado e sabia já como joia rara em colar inseparável, seriam no fundo do mar guardados...


Segredados!

E... Se outras testemunhas houvesse também choveriam...

E por mar/aguados chorariam...

Amor por toda uma vida por salgadas lágrimas banhado agora afagado pelo mar também de águas e sais a batizá-los dando-lhes na morte vida...

Enfim, almas libertas dos corpos que os prendiam,e agora e/ternamente no mar a/mar por toda a vida morrida...

….

sexta-feira, 3 de junho de 2011

POEIRA LÍQUIDA...



"A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos." (Manoel de Barros)

...



Sou sombras e escuridão!

Tantas e tantas tontas em mim em confusão... Fusão!

Sou razão, des/razão, loucura e paixões...

Densa, intensa, re/cortes, mosaico malcolado...
Tudo misturado!

Às vezes tateio a alma que sinto... Sinto, toco e choro... chorinho chorado, mas também sorrio e sou/rio!

Ora pântano camuflado... Alma do avesso em que se pode tocar... E tocam, e a fazem vibrar como um instrumento de cordas vibraria.

E me enforco... Sufoco... Grito em silêncios pisoteados... Por pés tocados.

E sou bicho também...

Bicho que do barro veio e lamacenta está! Mas, um dia secarei e pó também serei!

Foi dito e está escrito!

Mal-dito ou bem-dito não importa...

Sou porta aberta... Escancarada; e em mim passeiam anjos, demônios, vivos, mortos, mortos-vivos; vivos-mortos!

Me beliscam, mordem... Me acariciam, beijam... Me comem e cospem!

Às vezes sou digerida outras tantas vomitada... Nunca mais re/visitada... Sonhada, cantada; re/sentida!

Lama... Escuridão!

E sou razão! Então, enfeito tudo com flores, olores, sorrisos, palavras bem-ditas... Borboletas e beija-flores... Beija/dores!

Confusão!

Imaginação... Ilusão... Realização... estagnação...

Ação?!

Mordaça, camisa-de-força; loucura que se mascara, iluminando com escuridão!

E tudo passa... Todos passam e antes me perpassam...

Chaga que caminha... Mas, que se enxágua... Busca a fonte da dita água benta, para lavar-se dos pecados!

Haverá mesmo pecados? Haverá a bem-dita água benta? Algo bento que não seja o nome de tantos Bentos?

Arrebento-me!

Pântano... Sobre ele densa nuvem escura...

Sombra e escuridão!

Não entendo a multidão... Multidão de cidadãos que afundam sem sequer estender as mãos... E se as erguem é pra tentar uma encenação...

Mas, também sou multidão... E há nela uma menina que de olhos espantados, arregalados; chora como sentada diante de grande manada descontrolada vindo em sua direção...

Morrerá por pés tocada? Pisoteada?

E a menina flor do pântano/multidão...

Tão bela, delicada... frágil... Paradoxal!

Paradoxalmente nasceu da escuridão, mas precisa soltar-se de tão lodoso chão...

Iluminação!

És bela, destoa do lugar... Mas, tem em essência a terra deste mesmo estar... Foi de uma certa alquimia que tamanha aberração a produziu... A luz a entenderia... A terra firme talvez não!

E dentre tantas feras... Quimeras!?

Ferida aberta que grita; e a multidão se irrita com os gritos in/ternos da menina... Nem tão terna, mas a terra há de ela também enterrar!

Terras sombrias de imensos vazios lotados!

Mente De/mentes que finge, inventa cores, borboletas, flores e seus respectivos beijas... E tenta e lateja...

E mascarada sorri... in/ternamente só/rio...




Rio lamacento que escorre... Escorre e como ácido corrói!

E a multidão que a habita também grita! E xinga de esbravejar palavrões... Rosna, cisca, estufa o peito... Baba de ódio: explosão!

Implode: sangra e faz sangrar...

E o sangue se faz vinho pra bárbara multidão que em êxtase se embriaga e em orgias brindam o sangue derramado: transubstanciado...

Devaneios, sonhos, delírios... Fantasias, alucinações... Todas brindadas com o vermelho/sangue... Carmim... Vermelho/carne... Degustado no corpo escorrido de intrigante cale/se.

Torpor... Isto/por!

Saciação!

E há tantas guerras em distantes terras... e os distantes delas brindam, brincam com suas coloridas máscaras, que como densas nuvens dissimulam as densas nuvens de fortes tempestades de raios e trovões que se estampariam em crua e nua exposição...

Há guerras distantes, discutidas, planejadas... E as discutimos como grandes eruditos, escondendo nossa própria guerra inusitada... guerrilhas, terrorismos de um povo/polvo que nos habita e já não nos cabe... Não se cala. Não se adapta aos seus...

Não se com/formam... Transbordam sem possibilidade de conciliação...

Oferecer a outra face à multidão que tal multidão ultrapassa? Perpassa?

Fantasmas em pleno clarão...

Alma exposta!

E cada qual com suas almas assombradas de pensamentos vários, que sequer sabem de onde veem... De sua própria população? E esta mesma se atropela, pisoteia; massacra tanta emoção com tanques e canhões...

E de novo as máscaras!

Bombardeados... Massacrados, à beira da rendição, oferecemos flores com sorrisos e com/pressão!

E tudo isto, pra mostrar civilização? Educação? Domesticação? Autocontrole?

Que controle?

Tudo acasos e ocasos...

Hoje, sou sombra e escuridão! Sou fantasma/assombração!

E de minha multidão, alguém aqui fala e escreve... E há tantas bocas a vaiar, tantas vacas de saias a xingar, bêbedos a esbravejar... E tantos outros lacônicos... Melancólicos querendo se matar... De uma ponte se jogar! E há os homicidas que procuram a quem empurrar... Alguns loucos partidos que querem sempre mais partidas e são sempre re/partidos... Outros querem que tudo parta e se façam em partes...

Esquartejados!

E nesta confusão de sangue e terra que se faz lama avermelhada, no centro deste pântano, que um dia há de secar e poeira se tornar... Dentre tantas feras que berram...
 

A flor mais bela...
….