"A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos." (Manoel de Barros)
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Sou sombras e escuridão!
Tantas e tantas tontas em mim em confusão... Fusão!
Sou razão, des/razão, loucura e paixões...
Densa, intensa, re/cortes, mosaico malcolado...
Tudo misturado!
Às vezes tateio a alma que sinto... Sinto, toco e choro... chorinho chorado, mas também sorrio e sou/rio!
Ora pântano camuflado... Alma do avesso em que se pode tocar... E tocam, e a fazem vibrar como um instrumento de cordas vibraria.
E me enforco... Sufoco... Grito em silêncios pisoteados... Por pés tocados.
E sou bicho também...
Bicho que do barro veio e lamacenta está! Mas, um dia secarei e pó também serei!
Foi dito e está escrito!
Mal-dito ou bem-dito não importa...
Sou porta aberta... Escancarada; e em mim passeiam anjos, demônios, vivos, mortos, mortos-vivos; vivos-mortos!
Me beliscam, mordem... Me acariciam, beijam... Me comem e cospem!
Às vezes sou digerida outras tantas vomitada... Nunca mais re/visitada... Sonhada, cantada; re/sentida!
Lama... Escuridão!
E sou razão! Então, enfeito tudo com flores, olores, sorrisos, palavras bem-ditas... Borboletas e beija-flores... Beija/dores!
Confusão!
Imaginação... Ilusão... Realização... estagnação...
Ação?!
Mordaça, camisa-de-força; loucura que se mascara, iluminando com escuridão!
E tudo passa... Todos passam e antes me perpassam...
Chaga que caminha... Mas, que se enxágua... Busca a fonte da dita água benta, para lavar-se dos pecados!
Haverá mesmo pecados? Haverá a bem-dita água benta? Algo bento que não seja o nome de tantos Bentos?
Arrebento-me!
Pântano... Sobre ele densa nuvem escura...
Sombra e escuridão!
Não entendo a multidão... Multidão de cidadãos que afundam sem sequer estender as mãos... E se as erguem é pra tentar uma encenação...
Mas, também sou multidão... E há nela uma menina que de olhos espantados, arregalados; chora como sentada diante de grande manada descontrolada vindo em sua direção...
Morrerá por pés tocada? Pisoteada?
E a menina flor do pântano/multidão...
Tão bela, delicada... frágil... Paradoxal!
Paradoxalmente nasceu da escuridão, mas precisa soltar-se de tão lodoso chão...
Iluminação!
És bela, destoa do lugar... Mas, tem em essência a terra deste mesmo estar... Foi de uma certa alquimia que tamanha aberração a produziu... A luz a entenderia... A terra firme talvez não!
E dentre tantas feras... Quimeras!?
Ferida aberta que grita; e a multidão se irrita com os gritos in/ternos da menina... Nem tão terna, mas a terra há de ela também enterrar!
Terras sombrias de imensos vazios lotados!
Mente De/mentes que finge, inventa cores, borboletas, flores e seus respectivos beijas... E tenta e lateja...
E mascarada sorri... in/ternamente só/rio...
Rio lamacento que escorre... Escorre e como ácido corrói!
E a multidão que a habita também grita! E xinga de esbravejar palavrões... Rosna, cisca, estufa o peito... Baba de ódio: explosão!
Implode: sangra e faz sangrar...
E o sangue se faz vinho pra bárbara multidão que em êxtase se embriaga e em orgias brindam o sangue derramado: transubstanciado...
Devaneios, sonhos, delírios... Fantasias, alucinações... Todas brindadas com o vermelho/sangue... Carmim... Vermelho/carne... Degustado no corpo escorrido de intrigante cale/se.
Torpor... Isto/por!
Saciação!
E há tantas guerras em distantes terras... e os distantes delas brindam, brincam com suas coloridas máscaras, que como densas nuvens dissimulam as densas nuvens de fortes tempestades de raios e trovões que se estampariam em crua e nua exposição...
Há guerras distantes, discutidas, planejadas... E as discutimos como grandes eruditos, escondendo nossa própria guerra inusitada... guerrilhas, terrorismos de um povo/polvo que nos habita e já não nos cabe... Não se cala. Não se adapta aos seus...
Não se com/formam... Transbordam sem possibilidade de conciliação...
Oferecer a outra face à multidão que tal multidão ultrapassa? Perpassa?
Fantasmas em pleno clarão...
Alma exposta!
E cada qual com suas almas assombradas de pensamentos vários, que sequer sabem de onde veem... De sua própria população? E esta mesma se atropela, pisoteia; massacra tanta emoção com tanques e canhões...
E de novo as máscaras!
Bombardeados... Massacrados, à beira da rendição, oferecemos flores com sorrisos e com/pressão!
E tudo isto, pra mostrar civilização? Educação? Domesticação? Autocontrole?
Que controle?
Tudo acasos e ocasos...
Hoje, sou sombra e escuridão! Sou fantasma/assombração!
E de minha multidão, alguém aqui fala e escreve... E há tantas bocas a vaiar, tantas vacas de saias a xingar, bêbedos a esbravejar... E tantos outros lacônicos... Melancólicos querendo se matar... De uma ponte se jogar! E há os homicidas que procuram a quem empurrar... Alguns loucos partidos que querem sempre mais partidas e são sempre re/partidos... Outros querem que tudo parta e se façam em partes...
Esquartejados!
E nesta confusão de sangue e terra que se faz lama avermelhada, no centro deste pântano, que um dia há de secar e poeira se tornar... Dentre tantas feras que berram...
A flor mais bela...
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