terça-feira, 31 de maio de 2011

Conto um conto...



Alucinação?!


Um sol louco enlouquecia o dia...
Como não sentir a vida pulsar num dia louco de sol à beira mar?

E os olhos do menino ardia... queimava! E ele parecia nem notar... Distante de si a mirar ao lonnnnnge os pássaros a voar, tentando os identificar...

Tão pequenos: menino e pássaros a voar!



E de voo em voo, num esforço sobre-humano, o menino de dentro do homem sentado à beira-mar, voava com os olhos a queimar...

Tão menino era que esquecera, raramente tinha lapsos, do corpo que crescera... Se espichava, ele – o menino – como um belo girassol... E girava e se contorcia como a querer transpor, quem sabe soltar-se das raízes do corpo e, tal Ícaro enfeitiçado pelo brilho pela alma mostrado, voar... voar até não mais aguentar e não mais voltar...

Mas, à beira-mar, uma onda atrevida, de mansinho, maliciosa que era, como água viva, viva como toda a vida, sorrateiramente roçou-o e sem pudores os pés do menino beijou...

O menino que voava, e sequer se lembrava do corpo que o aguardava, rodopiou com o arrepio de amor da onda que o mordiscou...

Caiu-se! E viu-se... E olhou-se!

Baixando o olhar encontrou seu corpo... Estranho, estranhou!

À beira-mar, mirou seu corpo sedento e espantou-se...

Um cala/frio percorreu-lhe... tentou fugir, voar de novo... Não conseguiu! O corpo que gritava já prendera agora sua atenção... latejava emoção!

Cansado do esforço, fechou os olhos e entregou-se àquela sensação...

Sim... Fora uma lambida do mar que o fizera cair em tentação... E descobriu-se o menino que já não era tão menino...

Quantas emoções havia ali há tanto trancadas... E agora como o mar transbordavam!

No escuro, de olhos fechados para o sol que lhe calava os frios, de novo sentiu algo... como um breve e leve sussurrar; quase a roçar-lhe os ouvidos... E suas narinas foram preenchidas de um perfume tão... tão... (não conseguia descrever, há muito não sentia as coisas da carne... mas era bom! Quase podia degustá-lo de tão nítido e denso era tal perfume).

Seria sua imaginação? Estaria ele de novo em outro lugar a voar? Alucinação?!

Seu corpo estremeceu... Teve medo!

Não sabias o que sentias e temia de novo os olhos abrir...

Mas, o menino já não mais controlava o homem que no mesmo corpo habitava... E esse mais forte a pulsar obrigou-o a com ele abrir os olhos e viajar...

Talvez tivesse ficado tempo demais com os olhos fechados... Nada era nítido!

Tudo o que via era uma confusão de cores que parecia em torno de si voar...

  • Mas, Deus, onde estaria? Onde estivera? O que acontecia? Era como uma chuva de primavera! 



Estava confuso, e tantas cores e formas ainda mais o confundiam... E eram tantas... Aos poucos as cores foram tomando forma... E enxergou nelas, asas... Asas de desenhos e cores várias...

De onde teriam vindo? E por que em volta de seu corpo pareciam bailar?

Já não importava entender... Inebriado!

Cores com asas, sol na pele a lhe calar/frios e suaves ondas a acariciar-lhes os pés!

E menino e homem tremiam... Mas, não mais havia lugar para o temor...

Tantas sensações novas... Novas? re/cor/dadas?!

E nada ficava no lugar... Tudo se movia... Sua cabeça girava, seu corpo transpirava, seu coração acelerava... as ondas não paravam e nem as borboletas – cores com asas – pausavam... Já era possível ouvir e sentir o suave voar...

Mas, dentre tantas cores voadoras, eis que uma, dentre tantas, o fitou...

Verdade! Olhou e viu na pequenina borboleta um olhar de gente... gente que entende, como ele entendia... E havia malicia naquele olhar...


O menino envergonhou-se com tal olhar... e pensar... e ruborizou... mas, sorriu... sem querer, sorriu! O sorriso escapou-lhe e até ele espantou-se... Não havia mais ninguém no controle... Seu corpo agora sentia e lhe apresentava as sensações e emoções... Seus olhos ardiam... Mas, agora lágrimas de prazer os lubrificavam...

E a atrevida borboleta, rodeava sua face como a provocá-lo com suas cores... Como faria com bela flor... Encantada, voou alto, o mais que conseguia, talvez para se exibir... ou quem sabe apenas em êxtase enlouquecia...

Voou... Voou... Provocou-o, voltou e pousou!

E viera de tão longe... E de ao longe a muito seguia o perfume de um certo néctar que não conhecia... mas sentia e o buscava...

E agora, ali, diante dela, tão perto, não se continha... Inebriada via-se diante da busca finda!

Assim, bailava em torno do moço, como quem faz um ritual... Como quem no olhar de outrem se encontra e se embriaga de paixões refletidas... rodopiou como nenhuma outra borboleta jamais seria capaz... Seria preciso sentir muito... muito para tanto se desdobrar e praticamente do avesso voar...

E adiou o momento até não mais resistir... Pousou docemente e/ternamente no corpo doce que a atraíra... Pensou em desmaiar... pele macia e orvalhada... e o perfume que tão bem conhecias agora ali e já nela exalava... Tremeu... E trêmula sorveu uma gota de suor... como o orvalho que sentia do primeiro poro que tocou...

E o rapaz cedeu... sentiu cada delicado e leve gesto e o sorver da pequenina borboleta... E sem entender também estremeceu...



A borboleta sabida... BorboletaDeMente... deliciada, já não mais se continha... Sentiu o bem-estar que provocara e queria mais e já sentia que podia...

Atreveu-se mais... e galgou como degrau a degrau poro a poro o corpo que sorvia...

E sorriam!

Foi como a lamber... doce e leve sugar... E de lambida em lambida, de poro em poro, foi assim subindo, escalando, degustando, acariciando o menino, o homem... O sonho! Seu sonho, tantas vezes sonhados e agora encontrado, entregue... E todo seu, saboreado... Já amado!

O sonho que sonhava todo dia, acordada e dormida... o sonho que julgara um dia que talvez fosse só mais uma utopia...

Mas, tanto voara, e tantas vezes exausta pensara em desistir... Tudo esquecido, agora tudo era um só cala/frio!

E tantas dela se riram... Vivia seu sonho a sonhar e buscar... E de tanto dele falar a chamavam borboleta-feiticeira... Riam e diziam que se alcançasse seu sonho, se com sua quimera se encontrasse, no real não estaria... Precisaria de pura magia! E riam...

E sugando e relembrando a busca, o sonho tão sonhado... a borboleta sedenta cada vez mais violentamente sugava sua paixão... e se embriagava... e queria cantar, dançar, voar... Mas, não mais queria, não podia, como vicio, parar de em poro em poro o corpo de seu sonho sugar...

E o corpo/homem e a alma/menino também já não mais estavam em conflito... Com/partilhavam a emoção...

A borboleta atrevida... Num atrevimento ainda maior, sentiu a magia e entendeu que se seu sonho vivia podia mais... podia tudo!

E num ímpeto quis ser gente, ser menina, ser mulher! Atirou-se aos lábios que mirava e num sonho vívido quis beijá-los...

E foi tanto o seu desejo que não sou pousou de susto na boca do menino como também a mordeu... sentiu-o gosto de sangue em sua boca... E confundiu-se também...

  • Meu Deus! Estaria ela dormindo em algum lugar a sonhar!? E, agora tinha medo de seu amor ter ferido... mas foi só um beijo... um mordiscar... Se fosse sonho, preferiria morrer a acordar... Queria mesmo que ele a batesse, como quem espanta um inseto qualquer... Ou talvez na dor a engolisse... Mas, não queria mais voltar...

E no corpo do menino o prazer se fez... O menino de tão amado já queria ser alado e com bela borboleta voar e partir... Sentira igualmente ao homem que entregue nem sequer se espantou... o corpo trêmulo de prazer agora temia... não sabia o que fazia... Queria que a borboleta se tornasse mulher... E queria tocá-la, quem sabe beijá-la...

Estariam em outra dimensão? Seria tudo pura alucinação?

E o homem delirava... fechou os olhos e entregue àquele beijo-mordiscado... com tão doce borboleta trêmula em seus lábios, também não mais resistiu...



De olhos fechados, ainda via as cores que antes voava, não havia escuridão... Entendeu que enlouquecera... Que talvez ali também não estivesse... E ali, neste sonho que vivia podia ele também se declarar... Não resistiu: a borboleta beijou!

Por alguns instantes até parece que o tempo congelou... Em ambos, muitas memórias, como fotografias em suas mentes de/mentes foram se formando... Os corpos formigavam.. latejavam... Parecia um amor de vidas passadas... ou um amor por toda uma vida passado... Sentido, querido, ansiado...
Ninguém notava a confusão no homem à beira-mar, e sequer as borboletas os outros notaram...

….

E a borboleta pequenina, atrevida, feiticeira, menina descarada que voava... Desmaiou! Como flor se despetalou, e o corpo que cheirava flor agora a ela a beijava como flor...

Beija-flor!

No desmaio, de seus lábios sôfregos sem querer se soltou... O menino se assustou e quis salvar tão bela flor que frágil caia, rodopiando e batendo em seu corpo, como se rocha fosse... O homem quis socorrê-la... Não sabia se a ferira... não sabia se vivias... E foi tal a dor de supor-se culpado, que pelo menino foi levado... Voou!

Voou desesperado, como beija-flor de asas aceleradas...

A borboleta... em uma dobra do corpo que beijava, estonteada despertou... Beijou de novo o doce corpo que sonhara, mas já mirava o menino beija-flor a fugir... Voando pra longe dali...

Apressou-se... Voou... Voou... Voou como havia feito a vida toda a procura de seu amor...

E novamente o alcançou...

E numa mesma flor, com olhares combinados, pousaram: borboleta e beija-flor...

E nela, segredaram suas juras de amor... 



E o homem à beira-mar já sentia os olhos arderem tentando ao sol forte registrar ao longe a cena que presenciava...

O menino com quem seu corpo partilhava... soltara-se e feliz beijava a doce flor que voava...

Petrificado...

Agora todos encantados em espanto admiravam... E apontavam: ali naquela flor... Um beija-flor parece beijar, não a flor... Mas, a borboleta... que não há quem possa negar é uma flor que se desprendeu e a voar aprendeu...

E do outro lado do mar... Ah/mar...

Um sol louco enlouquecia o dia...
Como não sentir a vida pulsar num dia louco de sol à beira mar?

E os olhos da menina ardia... queimava! E ela parecia nem notar... Distante de si a mirar ao lonnnnnge os pássaros a voar, tentando os identificar...

Tão pequenos, menina e pássaros a voar!

E de voo em voo, num esforço sobre-humano, a menina de dentro da mulher sentada à beira-mar, voava com os olhos a queimar...

Tão menina era que esquecera, raramente tinha lapsos, do corpo que crescera... Se espichava, ela – a menina – como um belo girassol... E girava e se contorcia como a querer transpor, quem sabe soltar-se das raízes do corpo e, tal Ícaro enfeitiçado pelo brilho pela alma mostrado, voar... voar até não mais aguentar e não mais voltar...

A menina que voava, e sequer se lembrava do corpo que a aguardava, rodopiou com um arrepio de amor...

Sentiu... Um beija-flor a beijou!



Caiu-se! E viu-se... E olhou-se!

Baixando o olhar encontrou seu corpo... Estranho, estranhou!

À beira-mar mirou seu corpo sedento e espantou-se...

Era já uma mulher... estava feliz... o corpo trêmulo com cala/frios...

Então, tudo entendeu...

Voou! A menina também se foi...

E à beira-mar, todos os dias, todos estranham a presença como estátua sorrindo saciada, de um lado de um homem que mira o horizonte, do outro, a mulher que tal como ele, sorri no firmamento...

E no centro... E no horizonte perdido pra muitos, lá os olhares dos dois se cruzam...

Quem olhar, mesmo com os olhos a queimar, verão também: a voarem inseparáveis alma/menino-beija-flor e alma/menina-borboleta... 



Borboleta/atrevida/feiticeira/descarada... De/mente!

Amores platônicos... Quimeras... Utopias?

Alucinações?!

2 comentários:

  1. Hummmm...

    Eu poderia ficar dias aqui... Lendo, relendo, usufruindo, degustando, absorvendo... teria mil olhares, diversas compreensões!

    Mas a essência é uma só: pura lucidez da vida, que é o que você nos demonstra, Kel querida...

    Atrás das suas loucuras, que são apenas máscaras, há uma essência de luz e grande sanidade!! É com isso que aprendo todos os dias!

    E você se sai uma contista maravilhooooosa... por favor, não pare nunca!

    AMEI!

    Um beijo gigante!

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