sexta-feira, 3 de junho de 2011

POEIRA LÍQUIDA...



"A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos." (Manoel de Barros)

...



Sou sombras e escuridão!

Tantas e tantas tontas em mim em confusão... Fusão!

Sou razão, des/razão, loucura e paixões...

Densa, intensa, re/cortes, mosaico malcolado...
Tudo misturado!

Às vezes tateio a alma que sinto... Sinto, toco e choro... chorinho chorado, mas também sorrio e sou/rio!

Ora pântano camuflado... Alma do avesso em que se pode tocar... E tocam, e a fazem vibrar como um instrumento de cordas vibraria.

E me enforco... Sufoco... Grito em silêncios pisoteados... Por pés tocados.

E sou bicho também...

Bicho que do barro veio e lamacenta está! Mas, um dia secarei e pó também serei!

Foi dito e está escrito!

Mal-dito ou bem-dito não importa...

Sou porta aberta... Escancarada; e em mim passeiam anjos, demônios, vivos, mortos, mortos-vivos; vivos-mortos!

Me beliscam, mordem... Me acariciam, beijam... Me comem e cospem!

Às vezes sou digerida outras tantas vomitada... Nunca mais re/visitada... Sonhada, cantada; re/sentida!

Lama... Escuridão!

E sou razão! Então, enfeito tudo com flores, olores, sorrisos, palavras bem-ditas... Borboletas e beija-flores... Beija/dores!

Confusão!

Imaginação... Ilusão... Realização... estagnação...

Ação?!

Mordaça, camisa-de-força; loucura que se mascara, iluminando com escuridão!

E tudo passa... Todos passam e antes me perpassam...

Chaga que caminha... Mas, que se enxágua... Busca a fonte da dita água benta, para lavar-se dos pecados!

Haverá mesmo pecados? Haverá a bem-dita água benta? Algo bento que não seja o nome de tantos Bentos?

Arrebento-me!

Pântano... Sobre ele densa nuvem escura...

Sombra e escuridão!

Não entendo a multidão... Multidão de cidadãos que afundam sem sequer estender as mãos... E se as erguem é pra tentar uma encenação...

Mas, também sou multidão... E há nela uma menina que de olhos espantados, arregalados; chora como sentada diante de grande manada descontrolada vindo em sua direção...

Morrerá por pés tocada? Pisoteada?

E a menina flor do pântano/multidão...

Tão bela, delicada... frágil... Paradoxal!

Paradoxalmente nasceu da escuridão, mas precisa soltar-se de tão lodoso chão...

Iluminação!

És bela, destoa do lugar... Mas, tem em essência a terra deste mesmo estar... Foi de uma certa alquimia que tamanha aberração a produziu... A luz a entenderia... A terra firme talvez não!

E dentre tantas feras... Quimeras!?

Ferida aberta que grita; e a multidão se irrita com os gritos in/ternos da menina... Nem tão terna, mas a terra há de ela também enterrar!

Terras sombrias de imensos vazios lotados!

Mente De/mentes que finge, inventa cores, borboletas, flores e seus respectivos beijas... E tenta e lateja...

E mascarada sorri... in/ternamente só/rio...




Rio lamacento que escorre... Escorre e como ácido corrói!

E a multidão que a habita também grita! E xinga de esbravejar palavrões... Rosna, cisca, estufa o peito... Baba de ódio: explosão!

Implode: sangra e faz sangrar...

E o sangue se faz vinho pra bárbara multidão que em êxtase se embriaga e em orgias brindam o sangue derramado: transubstanciado...

Devaneios, sonhos, delírios... Fantasias, alucinações... Todas brindadas com o vermelho/sangue... Carmim... Vermelho/carne... Degustado no corpo escorrido de intrigante cale/se.

Torpor... Isto/por!

Saciação!

E há tantas guerras em distantes terras... e os distantes delas brindam, brincam com suas coloridas máscaras, que como densas nuvens dissimulam as densas nuvens de fortes tempestades de raios e trovões que se estampariam em crua e nua exposição...

Há guerras distantes, discutidas, planejadas... E as discutimos como grandes eruditos, escondendo nossa própria guerra inusitada... guerrilhas, terrorismos de um povo/polvo que nos habita e já não nos cabe... Não se cala. Não se adapta aos seus...

Não se com/formam... Transbordam sem possibilidade de conciliação...

Oferecer a outra face à multidão que tal multidão ultrapassa? Perpassa?

Fantasmas em pleno clarão...

Alma exposta!

E cada qual com suas almas assombradas de pensamentos vários, que sequer sabem de onde veem... De sua própria população? E esta mesma se atropela, pisoteia; massacra tanta emoção com tanques e canhões...

E de novo as máscaras!

Bombardeados... Massacrados, à beira da rendição, oferecemos flores com sorrisos e com/pressão!

E tudo isto, pra mostrar civilização? Educação? Domesticação? Autocontrole?

Que controle?

Tudo acasos e ocasos...

Hoje, sou sombra e escuridão! Sou fantasma/assombração!

E de minha multidão, alguém aqui fala e escreve... E há tantas bocas a vaiar, tantas vacas de saias a xingar, bêbedos a esbravejar... E tantos outros lacônicos... Melancólicos querendo se matar... De uma ponte se jogar! E há os homicidas que procuram a quem empurrar... Alguns loucos partidos que querem sempre mais partidas e são sempre re/partidos... Outros querem que tudo parta e se façam em partes...

Esquartejados!

E nesta confusão de sangue e terra que se faz lama avermelhada, no centro deste pântano, que um dia há de secar e poeira se tornar... Dentre tantas feras que berram...
 

A flor mais bela...
….

6 comentários:

  1. Ah... minha querida Kel!

    Sei que já falei isso outras vezes, mas os seus poemas e textos nunca são poeira... Ou, se começam como tal, logo se transformam no mais lindo ouro em barra, pronto a ser desfrutado por seus leitores!

    É maravilhosa a dádiva de participar de suas "loucuras", compartilhar seus devaneios e entender a vida pelo seu olhar... saiba disso!

    Sempre haverá flores belas em seu caminho, mesmo que a estrada seja dolorosa... Porque, quando há luta e compreensão, tudo é válido!!

    Embeveço-me!

    Parabéns, querida...

    Um beijo enorme!

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  2. Ler seu texto é como hastear uma bandeira bem alta e forte... no mais elevado pico da elegância e da razão...
    Eita moça que escreve e brinca com o significado das palavras/silabas...

    bj 'de rapina'

    Catita

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  3. Adorei o jeito como vc brinca com as palavras, bjus gata

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  4. A forma que escreves é desprendida das convenções, isto é agradável e diferenciado.

    Parabéns!

    Abraços

    Priscila Cáliga

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  5. Me identifiquei mTOOOO com seu blog!!!
    Adorando...

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